sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Eu sou a Tempestade!

Não resisti a esse teste... Mas o resultado, eu já sabia...

yes
Voce e' a TEMPESTADE!!! Bonita, muito forte e
extremamente protetora das pessoas que ama.
Voce esta em sintonia com a natureza e e'
muito preocupada com justica e questoes
humanitarias. Determinada e Verdadeira sao
palavras que descrevem bem voce.
Infelizmente, certos medos e apreensoes sao
muito dificeis para voce superar fazendo com
que se iniba logo em situacoes em que voce
mais deveria ser forte.

Que personagem dos X-Men voce e' ?
brought to you by Quizilla

Filha de Yansã só poderia mesmo ser "A Tempestade"! rs...

Salaam
Layla


quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Pedaços de palavras

Ao revirar minhas coisas, eis que me deparo com um pequeno pedaço de papel, rabiscado no mês passado. Jogado dentro da bolsa de retalhos.

"Em minha mente, adentras esta porta com teus olhos de nuvem e boas novas nos lábios. Em minha mente, nada consegue sujar as cortinas de minha casa, nem tingi-las de pessimismo mórbido. Em minha mente, trazes nas mãos, flores, e nos olhos, estrelas. Trazes a lua quando adentras a casa, e já não precisamos mais de nada. Traga a ti mesmo; o resto é sem importância."

Apenas uma frase me veio à mente, fazendo-se verdade, diante da situação.

"Tanto apanhei da vida... E, pasme. Ainda sonho. Por ser idiota ou abençoada. Ainda sonho."

Salaam
Layla

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Sobre ser especial

Dizem que sou uma pessoa forte.

Dizem que eu sou culta e eloqüente. Dizem que eu sou articulada. Que eu me posiciono diante das coisas. Que sou resoluta, e sou inteligente, e sou agradável, e que sei rir dos meus problemas.

Dizem que sou boa bailarina. Dizem que sou interessante, quando começo a falar do Jung e do arquétipo do “pai escuro” presente no personagem do Darth Vader. Dizem que sou legal porque li O Senhor dos Anéis, e porque decorei os nomes dos personagens de StarWars. Dizem que sou bacana porque sei cantar em árabe.

Bela porcaria.

Eu só queria ser especial para você.

“I wish I was special...
You’re so fucking special...
But I’m a creep
I’m a weird.”

(Radiohead, “Creep”)

Salaam
Layla

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

1939

Olhando o porta-retrato, a mulher se emociona. Sente-se tomada por uma ternura colossal e assustadora, como se a vertigem dos anos lhe imprimisse mais e mais expressão no olhar a cada dia. A foto amarelada e velha, em preto e branco, não permite que se distingam as cores diferentes do paletó e do chapéu que ele usava. Não importa, ela pensava. Ela se lembra das cores, no porta-retrato da memória, muito mais fidedigno que aquele em que a foto repousava inerte. As lembranças não eram inertes. Em sua mente, a imagem da foto ganhava vida e colorido. Na foto a cor dos olhos dele ficavam vagas. Em sua memória, a cor dos olhos era única, e tingia tudo o que havia em volta.

Lembra-se da primeira vez em que botou nos olhos dele seus olhos ocres. Olhos ocres e imensos – não só no tamanho, mas no amor, na intensidade. Olhos herdados de sua terra, que deixara ainda criança, o Líbano. A casa que deixara vem à memória, o cheiro das especiarias, de zatar, de azeite no pão quente. Não sabia o que encontraria quando aquele navio aportasse. Encontrou um par de olhos claros. Tão diferentes daqueles que ela conhecia. Era tão difícil conversar em línguas diferentes, ela se lembra. Mas lembra-se também que as conversas mais importantes que tiveram não dependiam da linguagem falada. Lembra-se de que as frases mais preciosas foram trocadas entre aqueles olhos ocres e aqueles olhos claros, na profundidade do silêncio que tudo cristaliza. Foi aí que aprendeu que as palavras são desnecessárias. Havia o segurar de mãos, havia o abraço.

A mulher ajeita os cabelos, ainda tão longos, como nos tempos de moça. Hoje, amarrados numa presilha. Ainda tão negros. Aproxima as mãos do porta-retrato, segura-o. Na foto, ele não sorri abertamente. Sorri com os olhos. Sorri para ela. Ela sorri também, de volta. Lembra-se de uma velha canção árabe que dizia: “moço bonito da região de Saidi, seu nome está escrito na palma da minha mão”... “Yaa hulwe yaa zain”, ela se lembra. E lá está o nome dele, na palma das mãos dela. O nome que só ela enxerga, e que foi ali impresso pelo calor de outras mãos.

Como um amor pode durar por tantos anos? E não apenas durar, mas conservar-se intacto: ela se lembra da primeira vez que o viu como se fosse ontem. Ela se lembra de todos os detalhes. Ele não se lembra, a não ser dos olhos dela que o fitavam, brilhando. Brilhando como não brilharam até aquele dia. Brilhando como brilhavam agora, a naufragar nos olhos dele através da fotografia.

Ele abre a porta de casa, e a vê com a foto nas mãos. Nesse instante, fitar os olhos da mulher é retornar ao passado, e consumir-se naquela cena que a adaga do tempo não feriu. Os olhos da moça são vistos através dos olhos daquela mulher madura, e são hoje ainda mais profundos e eloqüentes que antes. Os olhos vítreos que a mulher fita também não perderam a imensidão de outrora. Ainda são mar.

O homem traz uma pequena flor. “Trouxe para você, Zahra”.

Zahra é seu nome. Zahra. “Flor”, em árabe.


Salaam
Layla

domingo, fevereiro 05, 2006

Conversa de consultório

Diz o doutor à sua paciente: “Você tem um mês de vida.”

“Um mês, doutor? O senhor tem certeza? Não haveria alguma possibilidade de haver nem um diazinho a mais?”.

“Um mês, minha senhora”.

A paciente fumava infinitos cigarros. Na verdade, não se sentia culpada. “Quem é que, escutando que terá um mês de vida, iria se conter, iria resistir a fumar alguns cigarros?” – desculpa-se.

A mulher torna-se meditativa. O que fazer com esse mês que lhe resta? Que diabos poderia fazer com trinta míseros dias, essa porcaria de tempo que não dá para nada – não dá para plantar uma árvore e vê-la crescer, não dá para aprender a tocar piano, não dá para educar um filho... Mas que pouco tempo, que injustiça da vida! – revolta-se. “Tanta gente aí que vai viver um monte, e eu vou morrer em trinta dias!!! Eu morro, enquanto os outros vivem, e plantam árvores, e aprendem a tocar piano, e educam os filhos... Mas que desgraça!”

“Por que eu, porra?” – pergunta-se.

Nesse instante, eis que Deus lhe dá um chacoalhão. Chega ao seu ouvido e sussura: “Poderia ser dois, três, cinco dias, e estou te dando trinta. Faça o favor de vivê-los da melhor forma possível, ou vai se ver comigo quando chegar no céu. E se eu te ver infeliz em algum desses trinta dias, vou achar você uma mal-agradecida, e vou encurtá-los para vinte”.

A mulher estremece. Trinta é melhor que vinte.

Nesse instante, começa a perceber que o melhor a ser feito é passar grandes trinta dias. Ela nunca tinha andado de montanha russa, e decidiu que era chegada a hora. Tinha medo do mar desde criança, e resolveu que, nesses trinta dias, iria à praia e molhar-se-ia até a cintura (para não correr o risco de encurtar o tempo). Comeria sorvete de leite condensado com frutas vermelhas todos os dias. Com os dedos. Lambuzando-se. Iria ao show do U2 e dos Rolling Stones. E gostaria das pessoas intensamente, e viveria a presença das pessoas queridas intensamente. E olharia nos olhos delas, e lhes diria o quanto são estimadas. E colocaria um jazz para tocar, para servir de fundo musical para declamar um poema em francês. E chegaria ao ouvido de alguém especial e sussurraria aquela música que Amélie Poulain cantava no filme: “Si tu n'étais pas la, comment pourrais-je vivre?”. Gastaria todos os seus vidros de perfume, perfumando-se para ficar em casa, lavando louça, cozinhando. Usaria as roupas que guardava para as festas. Perderia o medo de dizer que gosta de alguém. “Que se dane, vou morrer mesmo”, pensava.

“E então, minha senhora? O que fará diante dessa situação?”

“Eu vou enfiar o pé na jaca, doutor”.

“Enfiar o pé na jaca?!?!”

“É, doutor. Enfiar o pé na jaca, o senhor não sabe o que é isso? Ora, doutor, francamente... Eu não sei quanto ao senhor... Mas eu não tenho medo de morrer, não. Medo, medo, não. Não é o fato de saber que vou morrer que vai me acabar com a vida antes do tempo, ora bolas”.

O doutor fica perplexo com a honestidade (insanidade, talvez?) da senhora.

E quer saber, doutor, volte amanhã que vai ter até vinho na geladeira. Convido o senhor. Beberiquemos um vinho, ouvindo um bom jazz.

A paciente pensa em bebericar o vinho até a última gota. E a bebericar a vida até a última gota.

“Aceita um gole, doutor?”

“Salut”, responde o médico. E seja lá o que Deus quiser.


Salaam
Layla

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Le Fabuleux Destin

Sou uma pessoa noturna. Não é de se admirar que eu me chame “noite”, em árabe. Nas férias, aproveito para degustar plenamente as madrugadas, e meu relógio biológico funciona como ele mais gosta: durmo durante o dia e aproveito depois a companhia do mar de estrelas e a presença amigável da lua.

Hoje foi assim. Desenhei até as sete e meia da manhã, quando fui dormir. Entretanto – e para minha surpresa – despertei às dez da manhã. Como há tanto tempo não ocorria. Não sei por quê. Senti o cheiro de pão fresco na rua, levantei-me e me pus a caminhar.

Caminhar, caminhar a esmo, e há quanto eu não fazia isso! Caminhar olhando para as árvores, e percebendo as lindas flores amarelas que as enfeitavam e forravam o chão, deixando-o parecido com um quadro de Van Gogh. Caminhar ouvindo os pássaros que voavam, aos pares, desfrutando de um namorico leve e barulhento. Caminhar dando bom-dia aos transeuntes e brincando com os cachorros da rua.

Coisa de cinema. Um plágio de Amélie Poulain, alguns diriam. Mas não era. Era apenas a vida. A vida sorrindo um sorriso largo, como há muito não acontecia. Há muito tempo eu não acordava plena de vontade. Uma vontade incontrolável. Uma vontade desesperada. Aterradora. Uma descomunal vontade de viver. De sorver a vida em goles largos, e saboreá-la nos mínimos detalhes.

Vontade de chegar em casa, e colocar aquele cd de música francesa para tocar. E de comer a minha comida preferida. E de telefonar para uma amiga querida, e dizer que a adoro, e que estou muito feliz hoje, e precisava dizer isso a alguém.

E eu fiz isso tudo.

Hoje, no dia em que a Beduína sorriu para o mundo, e que as flores ficaram felizes.

“Quando piso em flores
Flores de todas as cores
Vermelho-sangue
Verde-oliva
Azul-colonial
Me dá vontade de voar sobre o planeta
Sem ter medo da careta
Na cara do temporal

Desembainho a minha espada cintilante
Cravejada de brilhantes
Peixe-espada, vou pro mar
O amor me veste com o terno da beleza
E o saloon da natureza
Abre as portas pr’eu dançar...”

(Zeca Baleiro, “Boi de Haxixe”)

Salaam
Layla

:)

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Um céu cheio de estrelas, feitas com caneta bic no papel de pão

"De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro, madrugada
De nós dois não sei mais nada..."

(Fragmento de "Quase Nada", Zeca Baleiro e Alice Ruiz)



Não saber.

Mas sentir.

Eis o segredo.


Salaam
Layla