domingo, março 28, 2010

Do coração e da guerra

Quando criança, na velha casa onde morava com uma imensa família, havia pendurado um pequeno quadro na parede com a imagem de Joana D'Arc. Demorei a encontrar, na internet, a imagem da santa exatamente como aparecia naquele quadro tão antigo. O fato é que cresci olhando para ele e imaginando quem seria aquela mulher por trás da armadura. Aquela mulher com expressão de mártir, a vestir na parte de cima do corpo uma armadura tão masculina e, na parte debaixo, uma linda saia comprida, adornada com figuras de flor-de-lis, numa clássica alusão à França. Naquela época, eu não sabia o que eram flores-de-lis, nem sua simbologia na França, nem nada. Mas eu era incrivelmente atraída por aquela imagem, sem compreender o porquê.

A imagem da mulher de armadura me acompanhou pela vida inteira, e se torna especialmente nítida agora, nesse momento em que atravesso minha guerra particular - uma entre tantas que sei que atravessarei na vida. Às margens dos meus trinta anos, estou aqui, armadura vestida e espada em punho. Saio de minha casa confortável, meu pequeno e simbólico útero, para rasgar a selva de pedra da cidade que me viu crescer, para enfrentar meus bichos, para parir uma dissertação de mestrado pela qual há tanto tempo eu vinha empenhando todas as forças. Sei que é uma guerra. E, como em todas as guerras, sinto alternar o ânimo, a coragem, o ímpeto de seguir em frente com o gelo da solidão, do medo, da insegurança diante de um futuro impossível de se vislumbrar. No meio da neblina, sinto meus olhos arderem, a visão embaçada e um frio a me cortar a pele. Hoje, acordando em meio a esse nevoeiro, descobri que sempre fui um soldado diferente dos outros.

Acho que sou a espécie de soldado que, sem falsa modéstia, sempre foi bom combatente por não se crer invencível. Eu luto com o medo ao meu lado, sentado em meus ombros como um corvo. Mas eu luto. Eu luto com saudades de casa, desejando voltar. Mas eu luto. Aprendi que só consigo acordar no dia seguinte, para mais uma batalha, se me permitir sentar sozinha à madrugada para chorar todas as lágrimas que quiserem sair. Para sentir saudade, sentir medo, sentir fraqueza, sentir que queria voltar a ser criança e ser embalada no colo materno. Depois, como que por mágica, renasço mulher, senhora de mim, com uma tempestade no peito, pronta para ficar de pé.

Hoje, me sentindo frágil e quebradiça, acordei me lembrando da imagem de Joana D'Arc. Deixo aqui a oração a ela dedicada e meu pedido de que me ajude sempre a marchar, mesmo através da neblina fria. Peço à santa que desde criança me acompanha que, quando eu sentir frio, me agasalhe; que agasalhe meu coração roto. Que agasalhe minhas mãos geladas para que elas possam continuar trabalhando. Que agasalhe as pessoas que amo para que elas não sintam frio quando eu estiver longe e não puder abraçá-las.

Ó Santa Joana D'Arc vós que, cumprindo a vontade de Deus, de espada em punho, vos lançastes à luta, por Deus e pela Pátria, ajudai-me a perceber, no meu íntimo, as inspirações de Deus. Com o auxílio da vossa espada, fazei recuar os meus inimigos que atentam contra a minha fé e contra as pessoas mais pobres e desvalidas que habitam nossa Pátria. Santa Joana D'Arc, ajudai-me a vencer as dificuldades no lar, no emprego, no estudo e na vida diária. Ó Santa Joana D'Arc, atenda ao meu pedido. E que nada me obrigue a recuar, quando estou com a razão e a verdade, nem opressões, nem ameaças, nem processos, nem mesmo a fogueira. Santa Joana D'Arc iluminai-me, guiai-me, fortalecei-me, defendei-me. Amém.

Salaam
Layla

Imagem: www.portalbaw.com.br/religiao/santas.htm

sábado, março 13, 2010

Volto logo

Amigos, eu volto logo... Prometo não demorar. Eu tenho sentido tanta, tanta falta de escrever aqui. É como se eu tivesse abadonado a velha casa às teias de aranha e à poeira. Não é vontade minha. É difícil para mim conviver com o fato de que minha vida está tão corrida que, na maioria das vezes, falta o tempo para mim mesma. Para escutar meus pensamentos. Sinto falta da mulher noturna que, tantas vezes, escreveu noites inteiras adentro. Um sem-número de poemas, de divagações e devaneios. A boa notícia é que tenho empenhado meu tempo no tão sonhado mestrado. Que privilégio poder ter a vida tomada pelo estudo das pessoas, da mente, da mitologia... Que honra e privilégio, né minha gente? Não posso fazer feio agora não :) .
Logo logo volto.

Salaam
Layla

Saudades

Minha homenagem a esse cartunista que preencheu o silêncio de tantas tardes de minha adolescência... Entre meus livros preferidos, lá estavam, juntamente, as revistas do Glauco. Qualquer quadrinho dele me lembra a velha casa, os velhos amigos, as velhas conversas, meus velhos desenhos. Me lembra de como a minha adolescência teve sentido, teve razão de ser, teve um significado, graças a Deus.
Como várias pessoas, Glauco também era um pedacinho de mim.
Vai com Deus, Glauco.

Salaam
Layla

Imagem: www.uol.com.br/glauco