Do pôr-do-sol na velha estação
Caminho pela velha estação de trem, onde passei tantos momentos da adolescência. É uma construção já abandonada, o que a torna ainda mais agradável. O ar nostálgico me é incrivelmente familiar. O trem velho, parado, me convida ao que fiz tantas vezes, por volta dos 15 anos de idade: subir em cima dele e ver o sol cair. O céu multicolorido, numa mescla de tons rosáceos que causaria tristeza a Monet. E quando o sol vai dormir, aparecem as estrelas, a fitar o mundo escuro com milhões de olhos.
Distante de tudo e de todos, eu fito também o mundo com meus olhos vagos. Sobram-me recordações de todo tipo, tanto doces, quanto deveras amargas... Recolho-as todas dentro de mim – “São minha vida... Ninguém me poderá tomá-las”. Recolho os sonhos felizes e os malogrados, as juras de amor e as despedidas. São parte de mim, são o relicário que carrego nos olhos. Recolho as músicas em francês e os poemas em russo. Recolho as velhas canções árabes.
São meus pedaços.
Não tenho vontade de trocá-los por nada. Nem por uma vida de anestésica e perene felicidade. A mulher que sou hoje é também resultado de suas profundas cicatrizes. Alguns cortes tão profundos, costurados à mão, entre gritos de dor... E alguns momentos de tanta alegria, que merecem ser emoldurados ao som da nona sinfonia de Beethoven. Eu sou o resultado disto tudo.
Sinto-me bem, aqui comigo... Sinto pinceladas de uma esperança nascente. Tenho a sensação de que não estou só.
Salaam
Layla