domingo, novembro 29, 2009

Telurya

Caros amigos, novamente me desculpo por tanto tempo sem escrever... Fim de ano é realmente uma época de outro ritmo, tudo mais avassalador, mais corrido, mais carregado emocionalmente - ao menos em minha história de vida... Dessa vez, me ausentei porque andava soterrada em livros, estudando para uma prova muito importante. Passada a prova, tenho agora me dedicado à nossa mostra anual de dança. Venho aqui, portanto, convidá-los para o espetáculo. Como sempre, todos os que comparecerem verão o resultado do trabalho de um ano das alunas e da companhia de dança. São professoras, estudantes, mestrandas, donas de casa, comerciantes, advogadas, enfermeiras, enfim... trabalhadoras diárias, mães, mulheres de carne e osso que provam ser possível respirar arte no quotidiano e viver com criatividade e beleza. O melhor de nossos espetáculos é que eles mostram que a dança do ventre é acessível a todas, uma vez que não requisita um corpo padronizado, uma imagem ideal, uma idade específica, um cabelo assim ou assado: todas são benvindas e a diversidade é o que nos faz mais bonitas. Telurya revisita elementos tradicionais e antiquíssimos da simbologia feminina e da cultura árabe, colorindo-os com roupagens e sonoridades contemporâneas. Isso é possível porque a dança é atemporal. É uma metáfora para a vida e para os nossos sentimentos, que podem se apresentar fulgurosos como um solo de percussão, alegres como uma dança do jarro ou introspectivos como um takassim profundamente sentido.
Através dos séculos, as mulheres carregaram o estigma da inferioridade. Inúmeros textos sagrados, filosóficos e mesmo as tradições do cotidiano nos consideraram inferiores, irracionais, pouco capazes, fracas. Hoje, essas feridas ainda sangram, pois a violência, seja física ou simbólica, ainda se abate sobre nós. A dança do ventre é um poderoso veículo de transformação. Ela cicatriza esses cortes e possibilita que nos reinventemos, que encontremos nossa identidade feminina, que nos sintamos belas para além dos padrões de beleza inatingíveis que nos são vendidos diariamente.

Na escola de dança, vemos as mulheres chegarem às aulas como pessoas comuns e dançarem como deusas. Ao contrário, também é possível pensar que nós, deusas, saímos de nosso espaço, nos fantasiamos de mulheres comuns e vamos trabalhar, estudar, cuidar da casa, da família, do amor, da educação, da economia doméstica, das causas sociais, da política.
Este espetáculo é uma maneira de compartilhar com vocês esse segredo.

Rhamza Alli completa 25 anos de carreira em 2010. Sua escola de danças árabes está presente em Londrina desde 1996. Além de proporcionar ludicidade àquelas que procuram as aulas, ainda forma bailarinas profissionais atuantes na Companhia Rhamza Alli de Danças Árabes. Telurya é o resultado do trabalho dessas alunas e profissionais durante o ano de 2009.

TELURYA
Realização: Rhamza Alli - Companhia de Danças Árabes
11, 12 e 13 de dezembro
Circo Teatro Funcart
Londrina, Paraná, Brasil

(Em tempo: "Telurya" vem da palavra "telúrico", que significa algo relativo à terra, ao chão. O aspecto telúrico é um componente importante do feminino arquetípico: é nossa parte terrestre, nossa vida instintual, nossa ligação com o mundo natural, primevo, original...)
Salaam
Layla
(Imagem: RGB / Foto: Milton Dória)