terça-feira, setembro 13, 2011

Leva-me aos fados

Porque não há lugar para almas como a minha neste mundo, encontrei meu lugar dentro de um fado. Porque nesta dimensão da vida onde tudo é racional, binário, linear, sintético, lógico e excessivamente cortical, pessoas que circum-ambulam em torno dos sentimentos, como eu, são perda de tempo. E ninguém quererá perder seu tempo comigo.

Porque minha solidão e meu retraimento são inadmissíveis nessa cultura onde tudo nos impele a uma sociabilidade forçada, encontrei meu lugar dentro de um fado. Encontrei meu refúgio para um mundo bruto, grosseiro, em que se resolve pela força qualquer tipo de diferença. Este mundo é dos fortes, e eu sou fraca. Minha fraqueza só cabe dentro de um fado, em mais nenhum lugar.

Só o fado acolhe minhas longas explicações. Só o fado acolhe o meu silêncio. Minha avassaladora desimportância, apenas no minúsculo interstício entre duas notas de uma guitarra portuguesa encontram seu lugar. Na voz grave, sôfrega e trêmula de uma mulher que canta cabe a história da minha vida, o contorno de minhas mãos e algo vago vindo dos meus olhos. Meus estranhos olhos tristes não têm lugar neste mundo.

Felizmente há o fado em meu caminho, e seus braços gentis. Aos órfãos de entendimento, aos carentes semelhança, há o fado em seu caminho. Há o fado em seu caminho, a todos aqueles que nasceram com o mar bravo, a vaga revolta dentro do peito. Turbilhão contido em palavras nas quais todos os irreconhecíveis se reconhecem.

Salaam
Layla
Em português,
Noite.