tag:blogger.com,1999:blog-196772432024-03-12T23:36:30.043-03:00Correndo com os Lobos"A sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas."<br>
Clarissa Pinkola Estés, "Mulheres que Correm com os Lobos"Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.comBlogger131125tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-14775781601269507642012-10-31T00:29:00.002-02:002012-10-31T00:29:45.555-02:00e cansadae cansada, cansada, cansada de todas as noites que não vi nascer em tua companhia, cansada de todos os amanheceres em que você não está, e cansada de acordar de manhã e não sentir seu hálito num beijo com vergonha de dar bom dia por não ter ainda escovado os dentes, e cansada de todo o fogo que ficou longe, que definhou, que apagou, que perdeu o cio, e cansada de estar no cio ainda, e cansada de não saber o que faço com minhas explosões de hormônios quando você não está, cansada de querer dar-lhe toda o amor do mundo, cansada de querer dar-lhe tanta cama e mesa, cansada de saber que eu remendaria suas calças velhas sorrindo, se preciso fosse, que eu lavaria tuas roupas, que até o cheiro do teu suor meu nariz aprendeu a identificar no meio de uma multidão, cansada de saber que seu eu trabalhasse num prostíbulo, eu saberia do teu cheiro mesmo entre mil cheiros, e que eu saberia em quais lençóis você esteve, porque conheço os vestígios que o teu corpo deixa, porque não me esqueci de nada, porque eu conheço o grau exato das curvas de cada fio do teu cabelo com a precisão de um estudo de geometria, cansada de saber da tua pele, de cada lugar onde ela é áspera e onde não é, porque essas informações ficaram inscritas nas minhas mãos, porque teu nome está nas minhas palmas, porque fui eu quem te ensinei a escrever o teu, cansada de montar coreografias para minhas apresentações de dança sentindo que meu próprio sangue me escorre pelas pernas, cansada de meu útero oco, cansada de meu coração cheio, cansada de pensar em tudo o que não vivemos e que você provavelmente viveu com cada uma daquelas que passaram pela tua vida, cansada de sentir ódio delas, mesmo não as conhecendo, porque cometeram o delito de terem sido amadas por você, e vou morrer sem poder ser acusada deste crime, cansada de saber que sou água e queria ter sido tua terra, cansada de meu peito ser um esquife, um ataúde, cansada dos mortos que carrego, cansada de você ter vindo e não ter ficado, cansada de procurar soluções em todos os lugares, rezado para todos os santos, lido todos os livros e teorias e ter descoberto que nada remedia a morte do amor, cansada de não ter tido uma vida a dois com você, de não ter tido a oportunidade de ir com você ao supermercado para comprar as coisas do jantar, porque a mesa aqui estava sempre posta, a cama estava sempre posta, eu estava sempre posta, minha vida estava sempre posta, e a tua nunca esteveLaylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-24916582033187426692012-10-30T21:45:00.002-02:002012-10-30T21:45:41.560-02:00Mais um bilhete que nunca chegará às tuas mãosEu vejo o dia, o mês, o ano,<br />
- por que viver, sem ser preciso?<br />
Eu não te minto, eu não te engano<br />
eu não te finjo: - eu agonizo.<br /><br />Cecília Meireles<br />
in: <i>Canções.</i><br />
<i><br /></i>
Salaam<br />LaylaLaylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-32011236790258037142012-10-21T19:34:00.002-02:002012-10-21T19:34:13.046-02:00Entardecer, Ghada Shbeir, copo de chá.Saudade é um entardecer de domingo.<br />
<br />
E eu daria a minha vida para ver a lua subindo sem medo de uma despedida.<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/D3QB4VRZxK0" width="420"></iframe><br />
<br />
Bhibak,<br />
LaylaLaylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-5810835731298581022012-10-20T23:47:00.001-03:002012-10-20T23:47:21.684-03:00Ainda sonhar - ou mais um bilheteIncrível minha capacidade de prosseguir. Eu também não sabia que a possuía nesse grau. Porque embora o que me fere, me dói, embora essa quantidade imensa de lâminas a me atravessar a garganta, eu continuo amando, e isto não significa ingenuidade. Pelo contrário. Amor "a despeito" de minha falta de ingenuidade. A despeito de meu senso de realidade. Continuo limpando os cortes. Vendo-os cicatrizar. O sangue estanca, endurece, enegrece-se e, quando a dor abranda, pele nova há por baixo. Nova pele. Novos cortes. E tudo cicatriza de novo. Um contínuo cortar e fechar. Corta-se, eu remendo. Eu remendo.<br />
<br />
Remendo e ainda consigo sorrir a cada oportunidade que tenho de continuar a verter amor pelas pontas dos dedos. E esse amor escapa, derrama-se em minha comida, em minhas cartas, derrama-se em qualquer ínfima atitude que possa lhe arrancar um sorriso.<br />
<br />
Parece que vou andando como louca, atravessado um vendaval de mentira, discórdia, um vendaval de tudo aquilo que existe e que transforma este mundo em terra frágil. Como louca, prossigo, se eu não te encontrar ao fim da neblina, ao menos não terei feito parte desse coro triste.<br />
<br />
É noite, a despeito de tudo, sonho.<br />
<br />
Salaam<br />
LaylaLaylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-28319883086630644402012-10-18T01:31:00.001-03:002012-10-18T01:31:58.752-03:00Crua<div>
"Há sempre um lado que pesa e outro lado que flutua". </div>
<div>
<br />
(Onde está meu lado que flutua?)<br />
<br />
"Por isso, não se esqueça, dói".<br />
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/hukDinimxpA" width="420"></iframe><br />
<div>
Salaam</div>
<div>
Layla</div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-5177369008211150882012-10-17T03:26:00.002-03:002012-10-17T03:27:04.741-03:0003:26A coisa mais triste dessa beira de abismo é estar acordada às 03:26 sentindo um amor profundo e inominável, que jamais será colocado num envelope e entregue a seu destinatário.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Ausente.<br />
Mudou-se. </div>
<div>
Recusado.</div>
<div>
Todas as alternativas acima. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Salaam</div>
<div>
Layla</div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-86861684238733886992012-10-08T03:11:00.002-03:002012-10-08T03:11:44.780-03:00No tengo lugar<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/S96b1ycWTZs" width="420"></iframe><div>
<br /></div>
<div>
<i>No tengo lugar</i></div>
<div>
<i>No tengo paisage</i></div>
<div>
<i>Y aún menos tengo patria</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>Con mis dedos hago el fuego</i></div>
<div>
<i>Y con mi corazón te canto</i></div>
<div>
<i>Las cuerdas de mi corazón lloran</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>Nací en Álamo, nací en Álamo,</i></div>
<div>
<i>No tengo lugar</i></div>
<div>
<i>No tengo paisage</i></div>
<div>
<i>Y aún menos tengo patria,</i></div>
<div>
<i>Nací en Álamo, nací en Álamo</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>Ay, cuando cantas</i></div>
<div>
<i>Y con tus olores</i></div>
<div>
<i>Nuestras mujeres te hechizan..."</i></div>
<div>
<br /></div>
<div>
"E eu sou amor inteira". </div>
<div>
Mais nada. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Salaam</div>
<div>
Layla</div>
<div>
<br /><div>
<br /></div>
</div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-31963190799532342162012-10-03T23:39:00.000-03:002012-10-03T23:52:12.219-03:00Cuánto será mi dolorE todas as vezes que abro a blusa e, diante do espelho, vejo seios e pus, ao menos sei que não estou sozinha. Talvez a sombra de velhas índias que já morreram, de mulheres palestinas que perderam tudo; talvez o vulto de Frida Kahlo e de Violeta Parra me observem assim, com ternura, dizendo-me: vai, faz tua parte no mundo, a dor agora é tua, deixa que ela fecunde tudo, canta a tua dor, vive a tua dor, a dor é para os grandes... Os pequenos são poupados pelas mães, os pequenos não doém, dor é coisa de mulher, se você fosse menina não doía... Vá viver a sua dor, vá chorar a sua dor, chore em nosso nome, chore o que não tivemos tempo de chorar, chore os nossos ovários, que assim você ganha músculos, chore as suas vísceras, chore as nossas mortes e as tuas...<br />
<br />
E aos 32 anos eu descubro o que é ser mulher, o que é ter os fios do corpo tecidos de Yin, o que é carregar esse lastro psíquico, essa longa cauda histórica, sauriana, atrás do meu útero... Aos 32 anos descubro que é como mulher que eu sinto e que eu vivo, que não é na cabeça que resolvo minhas coisas - embora minha cabeça vá sempre na frente - , é nos meus ovários, é na minha carne, é no meu estômago, nos meus pulmões; meus pulmões estão cheios de sentimento, meu amor se espalha pelos meus intestinos e virilhas, meu amor anda dentro do meu corpo, desce pelos pés, toma minhas mãos, me faz cozinhar, preparar o chá, e escrever cartas diárias que nunca serão entregues ao seu destinatário, embora possam, quem sabe, parar na retina doutros olhos, que se reconhecerão nos meus infernos e se sentirão menos sozinhos.<br />
<br />
Eu não vou pulverizar minha dor... Recuso-me a desdizê-la, eu que carrego um cemitério no peito, dou-me o direito de chorar os meus mortos, botar-lhes flores pacientemente, dizer que queria que ficassem, que não tivessem ido... Dou-me o insano direito de preparar a mesa para esses mortos, acreditar clownescamente que não morreram, esperá-los para a ceia, dou-me o direito... Não quero ser essa pessoa asséptica, sem dor, sem flagelo, sem cortes, eu quero que vejam meus cortes, porque eles me definem, e é em nome deles que eu acordo todos os dias, em nome do que me falta, em nome do que apodreceu, que jaz no chão, esperando ser decomposto em matéria úmida, em nome da flor que nascerá ali...<br />
<br />
É que a tua foto vai ficando amarelada de tanto eu passar a mão, de tanto eu fazer carinho, é isso... Ela foi perdendo a cor, de tanto ganhar carinho... De tanto ganhar carinho, foi perdendo os contornos, do toque das minhas mãos, do toque das minhas mãos, do meu açúcar, do toque das minhas mãos, do meu tempero, do meu doce, do toque das minhas mãos... Eu separei, separei um pote de halewi para te oferecer, mas você não come mais açúcar...<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/P12pwUSR5V0" width="420"></iframe><br />
<br />
<i>Maldigo luna y paisage,</i><br />
<i>los pueblos y los desiertos,</i><br />
<i>maldigo muerto por muerto</i><br />
<i>y el vivo de rey a paje,</i><br />
<i>las aves con su plumaje</i><br />
<i>las maldigo a sangre fría,</i><br />
<i>las aulas, las sacristías,</i><br />
<i>porque me aqueja un dolor.</i><br />
<i>Maldigo el vocablo amor</i><br />
<i>con toda su brujería,</i><br />
<i>cuánto será mi dolor.</i>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-22646679998509763842012-10-02T04:50:00.001-03:002012-10-02T04:50:54.655-03:004:50 da manhã- E você não vê problema em morar na frente do cemitério?<br />
<div>
- Não. Tenho problema com os cadáveres insepultos que moram aqui, no meu peito.</div>
<div>
Salaam<br />
Layla</div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-78834559269193954912012-10-01T02:07:00.000-03:002012-10-01T02:07:00.079-03:00Um bilhete sem palavras<div>
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/eb4DtIjbWHk" width="420"></iframe></div>
<div>
<br /></div>
Meu coração nestas notas. <div>
<br /></div>
<div>
Bhibak</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Layla</div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-7417972189794601992012-09-27T02:54:00.002-03:002012-09-27T03:35:20.251-03:00Do meu melhor - ou mais um bilheteE então eu acrescentava a farinha, depois de dissolvido o fermento no leite morno...<br />
<br />
A manteiga, o sal, o açúcar. E mexia tudo delicadamente, com as pontas dos dedos, os dedos cobertos de fuligem branca. Encorpava com mais farinha até dar o ponto, polvilhava a mesa e ali, sob minhas mãos, a massa ia nascendo, forjada em amistosa e suave violência. Depois, um tempo para respirar, "que massa é que nem gente: se não respira, endurece"<span style="color: orange;">*</span>. Eu fumava um cigarro, depois picava as cebolas, depois desencaroçava as azeitonas suavemente na palma da mão, como me ensinaram. Picava tomates em pedaços miúdos; os tomates, eu sempre pensei, são corações, pois cortados ao meio, têm quatro câmaras... Misturava à carne isso tudo, botava a carne para curtir no limão, ela ficava lá, absorvendo os temperos, o zatar, o sumac.<br />
<br />
Que eu sei que quando ficar velha, serei uma velha árabe que faz setenta esfihas em uma hora. Que quando ficar velha, saberei qual foi minha obra-prima nesta vida. Não foram as duas faculdades, um mestrado - quiçá, terei feito ainda um doutorado, e sabe-se mais o quê. Nada disso. O que sei fazer de melhor é enfarinhar as mãos, fazer as esfihas que servirei no homus que eu preparei antes - ardido como nunca, quase duas cabeças de alho lá dentro, limão ao ponto do insuportável, e este era meu homus, era aquele que quem comia tinha vontade de correr três dias, eu já avisava.<br />
<br />
Minha obra-prima em vida não são os livros que li. E li boa quantidade. Até morrer, terei lido mais ainda. Nada disso. Meu melhor legado terá sido a forma como alimentei, e como amei aos meus. O que sei fazer, a melhor especialidade, é esperar-te com este chá de jasmim, esse café com cardamomo. E ouvidos. Ouvidos de ouvir. Coração de escutar. Olhos de não conhecer calendário, porque para eles o tempo não existe. Aconteça o que acontecer, a massa será sovada, a farinha chamuscará minha roupa, minhas unhas ficarão brancas, o chá será servido, há hortelã na geladeira, vou colocar no suco, os assados estarão cheirando, o forno tornará os dez graus da noite mais brandos, meu coração tornará o mundo suportável, porque, aconteça o acontecer, e não me importa teu desamor, eu acordarei e te cobrirei quando estiver frio.<br />
<br />
Ana bhibak,<br />
Layla.<br />
<br />
(Ao som de Anouar Brahem, "The astounding eyes of Rita", do álbum homônimo dedicado a Mahmoud Darwish).<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/AD1rouZMRaY" width="420"></iframe><br />
<br />
<span style="color: orange;"><i>(*Para compreender melhor esta frase, recorrer a um grande filme, obra de indizível delicadeza: "Histórias que só existem quando lembradas", direção de Júlia Murat, 2011).</i></span>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-36717882371598545892012-09-26T04:13:00.000-03:002012-09-26T04:13:00.758-03:00Um terceiro bilheteNo último cigarro do dia, à janela, assombra-me minha teimosia.<div>
Essa obstinação que persiste mesmo num cenário desértico. </div>
<div>
E isto é herança árabe. Sobreviver no inóspito.</div>
<div>
Arrancar o sustento dentre as pedras. </div>
<div>
Comer frutas secas e leite que azedou, transformá-los em iguarias. </div>
<div>
São teimosos.</div>
<div>
Assim como eu, porque sou uma deles. </div>
<div>
Assim como eu, que reluto em te enterrar, em te alijar dos meus olhos,</div>
<div>
mesmo neste cenário desolador que é a</div>
<div>
fatídica condição de não-amor.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Teimo em nascer todos os dias,</div>
<div>
mesmo que essa falta venha me ferir de morte, </div>
<div>
todas as noites. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Por esperança e teimosia</div>
<div>
continuo recebendo da vida meu direito de respirar. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Ana bhibak </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Layla</div>
<div>
<br /></div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-4401386809205322012-09-25T02:17:00.005-03:002012-09-25T02:26:54.104-03:00Um segundo bilheteEm todas as madrugadas, me alimento do teu rosto, do som da tua voz, dos cachos dos teus cabelos. De cada imperfeição na pele, de cada cicatriz, das tuas tatuagens. Em cada madrugada me alimento da tua argúcia, do teu vocabulário ora cheio de rancor, ora cheio daquele mel quase translúcido em que se mergulham os doces árabes. Da tua ambivalência. Dos teus porões obscuros e da tua luminosidade, me alimento. Me alimento da sensação dos teus pés enroscados aos meus.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Esteja você presente ou não, são as tâmaras dos teus olhos que abrandam meus infernos, em todas as circunstâncias. Das tuas mãos vieram as romãs do meu Hades. E agora já não posso partir. Já não quero.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Salaam</div>
<div>
Layla</div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-71588022675589765422012-09-19T02:14:00.003-03:002012-09-19T02:14:36.184-03:00Bilhete<div>
Amo-te de desespero e urgência,</div>
<div>
(Frida Kahlo por dentro,</div>
<div>
Monet, na aparência).</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Salaam</div>
<div>
Layla</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-36828142593344226192012-08-15T02:54:00.003-03:002012-08-15T03:00:59.170-03:00A mulher e a casa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii5NNPF-SM0AiLDDy80CZYUV5sTzetySbaMdPvaF6I9jqTg_kgqar5KwmgMaTx27kzC9TJ8wkm80PIOY5DCGn8koBedWVUp-HWXSda1MufcMFOHwmKO9rTdPDFGYYaHT2pBuCu/s1600/casa.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii5NNPF-SM0AiLDDy80CZYUV5sTzetySbaMdPvaF6I9jqTg_kgqar5KwmgMaTx27kzC9TJ8wkm80PIOY5DCGn8koBedWVUp-HWXSda1MufcMFOHwmKO9rTdPDFGYYaHT2pBuCu/s320/casa.jpeg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Tua sedução é menos</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
de mulher do que de casa:</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
pois vem de como é por dentro</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
ou por detrás da fachada.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Mesmo quando ela possui</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
tua plácida elegância,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
esse teu reboco claro,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
riso franco de varandas,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
uma casa não é nunca</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
só para ser contemplada;</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
melhor: somente por dentro</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
é possível contemplá-la.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Seduz pelo que é dentro,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
ou será, quando se abra;</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
pelo que pode ser dentro</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
de suas paredes fechadas;</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
pelo que dentro fizeram</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
com seus vazios, com o nada;</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
pelos espaços de dentro,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
não pelo que dentro guarda;</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
pelos espaços de dentro:</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
seus recintos, suas áreas,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
organizando-se dentro</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
em corredores e salas,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
os quais sugerindo ao homem</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
estâncias aconchegadas,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
paredes bem revestidas</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
ou recessos bons de cavas,</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
exercem sobre esse homem</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
efeito igual ao que causas:</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
a vontade de corrê-la</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
por dentro, de visitá-la.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
João Cabral de Melo Neto, </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
in: "Quaderna"</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Pergunto-me o que farei com meus "espaços de dentro", com meus "vazios", com o "nada". Meus recintos e áreas, meus corredores e salas. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Que não há maior alegria para uma mulher-casa que ter suas varandas rasgadas pelo encontro, por uma visita inesperada. Tais como as visitas noturnas que trazem consigo uma espécie de felicidade lunar, uma luminosidade níger. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Que minhas íris necessitam ser cortadas de novo por esse fio de azeite, essa lâmina dourada de beleza que emanasse de outros olhos-tâmara. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
A espera, aprende-se. Dança-se a espera. Come-se.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Salaam</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Layla</div>
Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-77175708788521786702012-07-06T17:17:00.000-03:002012-07-06T17:22:35.261-03:00Colcha de retalhos<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSONtsj2SbOJtTYO5o2HKlIKVTjFJ48sJWCeq-YdXkzAbvDmnNKHE1heiyqzMe4Znf1zHu9ZVxX_dj20OV8ctQO7SC33h9bMM_ME6gPc0mzAdD_ZUmci_QgB9a18LytL6aJOOj/s1600/colcha+retalhos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSONtsj2SbOJtTYO5o2HKlIKVTjFJ48sJWCeq-YdXkzAbvDmnNKHE1heiyqzMe4Znf1zHu9ZVxX_dj20OV8ctQO7SC33h9bMM_ME6gPc0mzAdD_ZUmci_QgB9a18LytL6aJOOj/s320/colcha+retalhos.jpg" width="311" /></a></div>
<i><br /></i><br />
<i>Para <a href="http://todastexturas.blogspot.com.br/" target="_blank"><span style="color: orange;">Elis</span></a></i><br />
<br />
Se pudessem ver o rosto<br />
do coração de Elis,<br />
veriam que é uma colcha de retalhos.<br />
<br />
De diferentes estampas e diferentes texturas,<br />
como são, de fato, todos os cortes<br />
depois de cicatrizados.<br />
<br />
Uma colcha de retalhos construída<br />
paulatinamente,<br />
alinhavada com música,<br />
silêncio<br />
e o susto do reconhecimento.<br />
<br />
Coração colcha de retalhos,<br />
generosidade de tecido,<br />
medicina contemplativa<br />
dos cortes em mim abertos<br />
pelas minhas próprias mãos.<br />
<br />
Coração agulha e linha,<br />
tessitura fina e desigual,<br />
feminina, em ponto crescente,<br />
alinhava rasgos e precipícios<br />
como uma índia antiga<br />
macerando plantas:<br />
madrugada na aldeia.<br />
<br />
Alinhava rasgos e precipícios<br />
como uma aldeã que faz o pão<br />
e, com ele,<br />
mata a fome dos homens<br />
e abranda suas discórdias.<br />
<br />
Retalhos de Penélope<br />
tecidos a cada espera.<br />
Fruto do tear noturno<br />
em que a trama do mundo<br />
é desenhada em silêncio,<br />
nas mãos das mulheres insones.<br />
<br />
Colcha de retalhos,<br />
coração de Elis.<br />
<br />
E o mundo não precisa mais chorar<br />
nem morrer encolhido, com frio.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Salaam</div>
<div>
Layla</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;">Imagem: http://www.allpeoplequilt.com/printable-patterns.html</span></div>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-11111145982059589572012-05-29T18:03:00.001-03:002012-05-29T18:06:47.538-03:00Escreve: sou árabe. No alto da primeira página, escreve.<div style="text-align: left;">
<span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 18px;"></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Em 2002, o The New York Times publicava: "Quase 10.000
refugiados palestinos, quase todos muçulmanos, vivem em menos de 1 milha
quadrada de terra, amontoados em barracos que formam becos salpicados de sucata
de carros velhos, velhas bobinas de fio e lixo. Eles são refugiados há 52 anos,
e muitos deles ainda guardam as chaves de suas casas que foram forçados a
abandonar."</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Registra-me</div>
<div class="MsoNormal">
sou árabe</div>
<div class="MsoNormal">
tu me despojaste dos vinhedos de meus antepassados</div>
<div class="MsoNormal">
e da terra que cultivava</div>
<div class="MsoNormal">
com meus filhos</div>
<div class="MsoNormal">
e não os deixaste</div>
<div class="MsoNormal">
nem a nossos descendentes</div>
<div class="MsoNormal">
mais que estes seixos</div>
<div class="MsoNormal">
que nosso governo tomará também</div>
<div class="MsoNormal">
como se diz</div>
<div class="MsoNormal">
vamos!</div>
<div class="MsoNormal">
escreve</div>
<div class="MsoNormal">
bem no alto da primeira página</div>
<div class="MsoNormal">
que não odeio os homens</div>
<div class="MsoNormal">
que eu não agrido ninguém</div>
<div class="MsoNormal">
mas… Se me esfomeiam</div>
<div class="MsoNormal">
como a carne de quem me despoja</div>
<div class="MsoNormal">
e cuidado… Cuida-te</div>
<div class="MsoNormal">
de minha fome</div>
<div class="MsoNormal">
e minha cólera.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
(Excerto de "Carteira de Identidade", Mahmoud
Darwish, poeta e escritor palestino).</div>
<br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline; line-height: 18px; text-align: left;"><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: x-small;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/qA353PWwqd8" width="420"></iframe></span></span><br />
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 18px;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div class="MsoNormal">
Salaam</div>
<div class="MsoNormal">
Layla</div>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-18912372281552291692012-05-18T04:06:00.003-03:002012-05-18T04:07:40.462-03:00Importância nenhuma<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVI6MUBQc3us8DxYYZMGs0e4LkUx_2TYXrwOETChpWZLHvOy5hzS8Jr6wVT05UNQqUbu45WRB8m_r5S9RVhDiOhNYx0ZX-7E5JMfuDNHWPpZ0iKv7Fy0xvXhXTIGjcOvcfTVO9/s1600/flor+amarela.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVI6MUBQc3us8DxYYZMGs0e4LkUx_2TYXrwOETChpWZLHvOy5hzS8Jr6wVT05UNQqUbu45WRB8m_r5S9RVhDiOhNYx0ZX-7E5JMfuDNHWPpZ0iKv7Fy0xvXhXTIGjcOvcfTVO9/s400/flor+amarela.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>O meu amor não tem</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>importância nenhuma.</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Não tem o peso nem</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>de uma rosa de espuma!</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Desfolha-se por quem?</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Para quem se perfuma?</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>O meu amor não tem</i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>importância nenhuma.</i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
"Inscrição na areia", </div>
<div style="text-align: center;">
Cecília Meireles.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
salaam</div>
<div style="text-align: center;">
layla</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">Imagem: <a href="http://onthee.blogspot.com.br/2008_03_01_archive.html">http://onthee.blogspot.com.br/2008_03_01_archive.html</a></span></div>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-28577590119199605232012-05-16T17:39:00.002-03:002012-05-16T17:47:13.404-03:00Nuda Veritas<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh51mpBERQZtQmOE85M38Hmtr98ZSWG3SqAuT5FKbsN74YY70SbfH0oEeZb81aQnqTKhyphenhyphen3u_dm_f-NTS0S6zrK6QZ1SpVzqf4JeANNuyEtdxi1oTOTfdUngwKJ3x5ABdvlQoK47/s1600/DSCF2195.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh51mpBERQZtQmOE85M38Hmtr98ZSWG3SqAuT5FKbsN74YY70SbfH0oEeZb81aQnqTKhyphenhyphen3u_dm_f-NTS0S6zrK6QZ1SpVzqf4JeANNuyEtdxi1oTOTfdUngwKJ3x5ABdvlQoK47/s400/DSCF2195.JPG" width="300" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
essa sou eu</div>
<div class="MsoNormal">
a que se gesta</div>
<div class="MsoNormal">
nas coxas de uma mãe</div>
<div class="MsoNormal">
sem nome</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
útero de carne</div>
<div class="MsoNormal">
e de poema</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
feito de amor</div>
<div class="MsoNormal">
e de fome</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
essa sou eu</div>
<div class="MsoNormal">
a que se costura</div>
<div class="MsoNormal">
nas coxas de uma mãe</div>
<div class="MsoNormal">
sem rosto</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
matando-me </div>
<div class="MsoNormal">
e recuperando-me</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
cuspindo alegria</div>
<div class="MsoNormal">
e desgosto</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
luminosidade dourada</div>
<div class="MsoNormal">
como um fio de azeite</div>
<div class="MsoNormal">
rasgando a sala</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
atravesso portas fechadas</div>
<div class="MsoNormal">
esmurro pontas de faca</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
(quanto mais esfacelada</div>
<div class="MsoNormal">
mais inteira me refaço</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
à madrugada)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
salaam</div>
<div class="MsoNormal">
layla<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">image: Nuda Veritas (Gustav Klimt) reinterpreted on the wall by Layla Atenea</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(obscurity photographed by Tarik Elid)</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-62935812178764749192012-05-03T03:01:00.000-03:002012-09-03T12:02:46.034-03:00بالروح و بالدم<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: orange; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 18px;"><br /></span></span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<span style="color: orange; font-family: lucida grande, tahoma, verdana, arial, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;">Bel rouh bel dam</span></span><br />
<span style="color: orange; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif;"><span style="line-height: 18px;">Da alma e do sangue</span></span></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Pero no cambia mi amor</div>
<div style="text-align: center;">
por mas lejos que me encuentre</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0euhK4qyU6-Qb4vr-cS5NpEo0NLgTfk6_-SnXfbG7evFrehXlbPb3z9O4C0Sumq2cM8QOCW3BScvtIQQmMX-oSQXrvGIXPbkBffPbdBavrSYicFYxDvxWSy1BIFQvapbxCCp2/s1600/2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0euhK4qyU6-Qb4vr-cS5NpEo0NLgTfk6_-SnXfbG7evFrehXlbPb3z9O4C0Sumq2cM8QOCW3BScvtIQQmMX-oSQXrvGIXPbkBffPbdBavrSYicFYxDvxWSy1BIFQvapbxCCp2/s320/2.jpg" width="222" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
ni el recuerdo ni el dolor</div>
<div style="text-align: center;">
de mi pueblo y de mi gente</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkqm29Hk9VuDEUCeJuybCcImHgKw3VSsOWaHAuwz5sp0r7-StKmA0TPBV5Q-o3IkWO-asfFziMIbuxxI4uMTwsjepmdyDt1qT42X7c4dsv1CeQSVnqMB1an5JBZmAJVo7HfDBk/s1600/1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkqm29Hk9VuDEUCeJuybCcImHgKw3VSsOWaHAuwz5sp0r7-StKmA0TPBV5Q-o3IkWO-asfFziMIbuxxI4uMTwsjepmdyDt1qT42X7c4dsv1CeQSVnqMB1an5JBZmAJVo7HfDBk/s320/1.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
lo que cambió ayer</div>
<div style="text-align: center;">
tendrá que cambiar mañana</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYiOcPrpodZOsuWnrCwfKkuEfHFqQX6Wg9RfMkYQ0Wq21QpASney9-DutWQ_ZxlgwFSZ8fiqgs24KJdiybz27A5HOvdTDw1UiyS_b0ISu2Tk-d97BFwSO0sgJhpkDrc12o1UbV/s1600/palestina-antes-de-1948.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYiOcPrpodZOsuWnrCwfKkuEfHFqQX6Wg9RfMkYQ0Wq21QpASney9-DutWQ_ZxlgwFSZ8fiqgs24KJdiybz27A5HOvdTDw1UiyS_b0ISu2Tk-d97BFwSO0sgJhpkDrc12o1UbV/s320/palestina-antes-de-1948.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
así como cambio yo</div>
<div style="text-align: center;">
en esta tierra lejana</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbJ8z6ASkcxtngGwsuS3FD_RwmvbRQNN3k0NwATVte018hS0k8Fl5WRIHp0W1w1VZIpJ0r0Otg34ZRMs0P3o8VpjVkLA-ywAgufzHzG9HfC2Ww6Lh-k4q_Ur1Y7QMYI1LD3Los/s1600/hebron-soldier-boy1-e1277214853847.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbJ8z6ASkcxtngGwsuS3FD_RwmvbRQNN3k0NwATVte018hS0k8Fl5WRIHp0W1w1VZIpJ0r0Otg34ZRMs0P3o8VpjVkLA-ywAgufzHzG9HfC2Ww6Lh-k4q_Ur1Y7QMYI1LD3Los/s320/hebron-soldier-boy1-e1277214853847.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Mercedes Sosa</div>
<div style="text-align: center;">
Todo Cambia</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/yN17DIdGLH8" width="420"></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Salaam</div>
<div style="text-align: center;">
Layla</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<span style="font-size: x-small;">Imagem 1: <a href="http://peacebytruth.files.wordpress.com/2010/06/taste-of-palestine.jpg">http://peacebytruth.files.wordpress.com/2010/06/taste-of-palestine.jpg</a></span><br />
<span style="font-size: x-small;">Imagem 2: http://my.opera.com/marcorj72/archive/monthly/?month=200910</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Imagem 3: http://peacebytruth.files.wordpress.com/2010/06/palestina-antes-de-1948.jpg</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Imagem 4: http://peacebytruth.files.wordpress.com/2010/06/hebron-soldier-boy1-e1277214853847.jpg</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com42tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-65617307072044274392012-03-06T03:47:00.001-03:002012-03-06T03:52:13.424-03:00Sobre a triste constatação de que é possível dominar o cunho vernáculo de um vocábulo e desconhecer, pela vida inteira, o coração dos homens e das coisas.Dize-me então, minha mãe, tu que conheceste tudo: onde vive aquele Éden chamado os dias felizes, que me prometeram desde cedo? Minha mãe, tu que tudo solucionavas, minhas minúsculas e atômicas dores, onde estás agora neste lixo, neste quarto escuro?<br />
<br />
A cada vez que abro a blusa defronte ao espelho há seios e pus.<br />
<br />
E livros, infindáveis Álvaros de Campos, Bernardos Soares, todos jorrando pelas estantes, todos enfiando as mãos no que há de pior em mim e expondo como as chagas mais dolorosas, e justamente as mais recônditas, as que eu escondo, as que eu cubro com gaze, mertiolate, duas camadas de tecido, um sutiã fosco, fecho com mil botões e então já posso partir, minha mãe, e ir trabalhar. Comodamente tomarei um café sem açúcar e com canela, cuspirei verdades, convencerei a quem quiser ser convencido de minhas vãs convicções e voltarei para casa certa de que estou dando conta da existência.<br />
<br />
Mas há a noite e a madrugada, e dessas não consigo fugir. Esgueiro-me como um rato, mas a lua me encurrala e ilumina com sua obscuridade níger tudo o que, em mim, sangra. <br />
<br />
À noite, é dor, minha mãe. Quem é que se ocupa dessas feridas, quando eu fecho meus livros? E tudo aquilo que você disse que haveria, ó mãe que conheces tudo? Culpo-me por ter desenhado um futuro quimérico. Hoje, entre o ideal e o real, um precipício.<br />
<br />
Culpo-me por acreditar em palavras boas, em promessas sorridentes, na sedutora obra poética do diabo. Culpo-me por ser ingênua por trás desse verbo apurado, que consegue empregar o cunho vernáculo de um vocábulo, mas desconhece o coração dos homens e das coisas. Culpo-me por desejar, por ver este oco, este vazio indigesto entre minhas costelas e por cogitar preenchê-lo com o vazio de outro corpo. Mas minha avidez é muda e amordaçada. De minha avidez, cuido eu. Ninguém tem nada com isso, não foi assim que me ensinaram? <br />
<br />
Culpo-me, mãe, por esperar as flores que você disse que viriam. Por esperar os braços.<br />
<br />
É tão sorrateira, e tão humana, e tão minha esta culpa. <br />
<br />
Ascendência de Eva, de serpente. <br />
<br />
Agora irás parir entre dores. <br />
<br />
No ladrilho mais frio.<br />
<br />
Na mais absoluta solidão.<br />
<br />
<em><span style="color: orange;">(Obrigada, Manuel Bandeira, por emprestar-me palavras para este título e para essas coisas que, sozinha, não sei dar nome).</span></em>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-56940846289301524702012-01-27T01:35:00.002-02:002012-01-27T01:51:24.902-02:00Da arte de dar nome ao que não tem nome, pois assim saberemos que existe.<span style="color: #e69138;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;"><em>Tenho ciúmes</em> </span></span><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Das verdes ondas do mar</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Que teimam em querer beijar</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Teu corpo erguido às marés</span></em><br />
<br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tenho ciúmes</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Do vento que me atraiçoa</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Que vem beijar-te na proa</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">E morre pelo convés</span></em><br />
<br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tenho ciúmes</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Do luar da lua cheia</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Que no teu corpo se enleia</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Para contigo ir bailar</span></em><br />
<br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Tenho ciúmes</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Das ondas que se levantam</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">E das sereias que cantam</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Que cantam pra te encantar</span></em><br />
<br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Ó meu amor marinheiro,</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Ó dono dos meus anelos,<br />
Não deixes que à noite a lua</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Roube a cor aos teus cabelos</span></em><br />
<br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Não olhes para as estrelas</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Porque elas podem roubar</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O verde que há nos teus olhos</span></em><br />
<em><span style="color: #e69138; font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Teus olhos, da cor do mar.</span></em><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><em><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;"><span style="color: #e69138;">(Carminho, "Meu </span><span style="color: #e69138;">amor marinheiro")</span></span></em></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">O fado é mesmo uma linguagem que consegue transmutar em palavras coisas que, por sua natureza, são intraduzíveis. Não é música. É uma maneira de enfiar-se a mão no peito e de lá arrancar tudo o que queria sair e não encontrava caminho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Desde sempre, assombra-me e fascina-me a mentalidade mítica portuguesa. Não poderia ser de outra forma em se tratando de uma cultura que tem em seu rastro os Lusíadas, com seus seres mágicos a contracenar com os homens. Um povo que trouxe ao mundo as palavras de Pessoa, salgadas de mar e de lágrima. Um lugar onde as mulheres têm conchas no vestido, algas na cabeleira, em cujos xailes as gaivotas vêm pousar(1). Não conheço na história de minha família qualquer ascendência portuguesa. Por que será que algo me imanta a este país, este lugar cujo chão meus pés desconhecem?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Talvez eu seja mesmo uma apátrida. Ou melhor, talvez meu lugar de origem seja esse mundo despido de fronteiras que é o incosnciente coletivo, esse lugar profundo e obscuro, nossa "longa cauda sauriana" onde se encontram as memórias da humanidade inteira. Estas esperiências abissais, numinosas, gigantescas... Só mesmo nesse país sem dono um poema como "Meu amor marinheiro" poderia nascer. O amado não é apenas um simples marinheiro, objetivamente falando. É um homem do Mar, esse mesmo mar salgado de lágrimas das mulheres que ali ficaram, ao observar na falésia os maridos e filhos partirem, "para que fosses nosso, ó mar" (2). Esse mar das tormentas, por onde chegavam os aromas e o pensamento doutras terras. Esse mar de encontros e desencontros que tantos homens sepultou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Nesse lugar mítico, nesta noite fora do tempo, tudo ganha vida: o corpo do amado é como a embarcação beijada pelas ondas, pelo vento e pela lua cheia. A natureza se personifica e se agiganta e todos voltamos a ser do mesmo tamanho, num sentimento medieval de "unnus mundus", a certeza de que tudo se encadeia e faz parte de um Todo maior. No mar de Carminho, homens, peixes, embarcações, luas, vento, ondas, estrelas - tudo está encadeado, entrelaçado, no colo silencioso da noite, esta nossa mãe escura.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">E num momento em que tais coisas poderiam ser apenas sentidas de forma muda, não-verbal, vem-me uma alma portuguesa e me escreve este fado. Traduz o intraduzível, risca o inefável do dicionário... Que é da alma portuguesa dar nome aos sentimentos e nos fazer saber que eles existem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Salaam</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Layla</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">em português,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">Noite.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/c_vvDGkbblc" width="420"></iframe><br />
<br />
<span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;">(1) Desnecessário mencionar que aqui há uma alusão à canção "Maria Lisboa", imortalizada por Amália Rodrigues. </span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS;">(2) Sei que choverei no molhado ao dizer que se trata de um verso de Fernando Pessoa. Todos já sabem que tomei emprestado...</span><br />
<br />
<span style="color: #e69138; font-family: Trebuchet MS;"><em>Esta postagem é dedicada a Camila Oliveira. Não bastasse ser uma grande amiga, foi quem me apresentou a voz de Carminho. :)</em></span></div>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-47448291289820014812011-11-18T02:43:00.003-02:002011-11-18T03:00:44.588-02:00Das respostasÀs vezes penso nos blogues por assim dizer, "populares", em cujas postagens são deixados dezenas ou até centenas de comentários. Eu considero uma espécie de fortuna ter por aqui às vezes dois, três, cinco comentários que, quando leio, me emocionam. Não raro, meus escritos são paridos entre muitas dores ("há uma gota de sangue em cada poema", não é, Mário de Andrade?). E em cada escrito, normalmente, brotam alguns comentários de pessoas que nunca olharam no fundo dos meus olhos mas que, em minhas dores do parto, se reconhecem. A cada escrito, recebo respostas que não são apenas palavras, são "centelhas de viver", na expressão de Clarice Lispector. Agradeço aos visitantes que deixam essas flores em minha porta. Um mar de estrelas se balança entre o meu pensamento e o de vocês*.<br /><br />Salaam<br />Layla<br /><br /><em><span style="font-size:85%;color:#ffcccc;">O mar de estrelas, aqui inspirado:<br /><br />Minhas palavras são a metade de um diálogo<br />obscuro continuando através de séculos impossíveis.<br />Agora compreendo o sentido e a ressonância<br />que também trazes de tão longe em tua voz.<br />Nossas perguntas e resposta se reconhecem<br />como os olhos dentro dos espelhos.<br />Olhos que choraram. Conversamos dos dois extremos da noite,<br />como de praias opostas. Mas com uma voz que não se importa...<br />E um mar de estrelas se balança entre o meu pensamento e o teu.<br />Mas um mar sem viagens.</span></em><br /><span style="font-size:85%;color:#ffcccc;"></span><br /><span style="font-size:85%;color:#ffcccc;">(<em>Diálogo</em>, Cecília Meireles) </span>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-18173302301041581342011-11-10T10:07:00.005-02:002011-11-10T10:40:27.719-02:00Min zamanQuando quero me lembrar de minha adolescência, tenho recordações de duas cores. Algumas são pura nigredo: sofrimento extremo, humilhação, rejeição e incompreensão. Outras são rubedo: vermelhas, apaixonadas, sanguíneas, vívidas, tão vívidas que parecem ter saído das paletas espanholas de Picasso. Dessas últimas, eu retenho algumas sensações inesquecíveis: os metrôs de São Paulo desembocando na rua 25 de março, a turba revolta que subia e descia a Ladeira Porto Geral como um rio de veias profundas, o cheiro de esfiha quente de zatar do Raful, a primeira máquina de escrever em árabe que vi (eu parecia José Arcadio Buendía, em Macondo, vendo pela primeira vez “o grande invento de nosso tempo”: o gelo*), o cheiro forte de incenso que vinha de dentro das lojas de produtos orientais, o ardor de um pedaço picante de chanclich, as arandelas árabes, de ferro, ornamentadas com aquela geometria mourisca e, sobretudo, a música árabe, meu primeiro registro do idioma que viria a ressoar em meus ouvidos como a voz materna, a voz de uma mãe doce, de uma origem perdida, imemorial, encravada nos ossos.<br /><br />Na época, cds eram coisas caríssimas e inacessíveis, então a música árabe entrou em minha vida por meio de fitas cassete gravadas de alguma fita que fora gravada de outra fita que por sua vez fora gravada de outra, e de outra, e de outra, que fora gravada do disco original. Elas eram comercializadas em São Paulo e eram caras, então a reprodução maneira viável de obtê-las. Não sei que rumo minha vida teria tomado se não fosse essas fitas terem chegado até mim: todos os dias, a música árabe era minha psicoterapia e meu porto seguro: eu adormecia ao som da voz de George Abdo, que eu não sabia quem era, pois me lembro de que nas fitas gravadas estava escrito apenas: “dança do ventre”.<br /><br />Mas a lembrança mais feliz de todas é a recordação da primeira imagem de dança árabe que tenho em minha vida, aos 14 anos, eu acho. O primeiro registro dessa arte que se tatuou em minhas retinas de uma forma tão profunda, mas tão profunda, que jamais eu pude me esquecer dele. Veio de uma fita VHS proveniente da casa de minha melhor amiga. Quando vi essa imagem, algo mudou dentro de mim e, finalmente, eu pude entender o que eu era.<br />Hoje me deparei com esse vídeo no youtube. Esta foi, sem sombra de dúvida, a primeira imagem de dança árabe em minha vida. A bailarina é Suhair Zaki, em alguma apresentação, creio eu, em meados dos anos 70. Para quem não conhece, esta mulher é uma lenda, um verdadeiro ícone da cultura árabe, mas na época, eu ainda não sabia. Não pude deixar de me emocionar ao ver novamente esses movimentos, que me trouxeram de volta aquela adolescente que não sabia nada de si, mas que passava a compreender, naquele momento, de que cores seu coração era feito.<br /><br /><iframe width="420" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/1oO3VkyiSsk" frameborder="0" allowfullscreen></iframe><br /><br />Salaam<br />Layla<br /><br /><span style="font-size:85%;">*Quem quiser compreender esta passagem da vida do inesquecível José Arcadio Buendía, ler: Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.</span>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-19677243.post-45368708020491868762011-10-12T23:11:00.005-03:002011-10-12T23:21:38.116-03:00Da infância<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3ddeLZikiEyhFo4e232VISpU3LLD7J88XBsMqT7LqhXsFZBjTsKhduytgeCNUlJXz_ifBRrunDy_QwUiTXyzR1x8VD6_S5CAH6Z-7f6yRgo5h8zxnFdiQHhoCzD_W2QT5l6bD/s1600/arab_jewish_boysw560h384.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5662793894581957250" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 274px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3ddeLZikiEyhFo4e232VISpU3LLD7J88XBsMqT7LqhXsFZBjTsKhduytgeCNUlJXz_ifBRrunDy_QwUiTXyzR1x8VD6_S5CAH6Z-7f6yRgo5h8zxnFdiQHhoCzD_W2QT5l6bD/s400/arab_jewish_boysw560h384.jpg" border="0" /></a><em><span style="color:#ffcc33;">Infância é aquele período da vida em que as coisas podem ser simples, como devem ser.</span><br /></em><br />Paulo tinha fama de mentiroso.<br />Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.<br />A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto a queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.<br />Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá -lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico.<br />Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:<br />– Nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.<br /><br />(Carlos Drummond de Andrade)<br /><br /><span style="color:#ffcc00;"><em>Feliz dia das crianças.</em></span><br /><em><span style="color:#ffcc00;">:)</span></em><br /><br />Salaam<br />Shalom<br />Paz<br /><br />Layla<br /><br /><span style="font-size:85%;">Imagem: <a href="http://forabetterlebanon.files.wordpress.com/2009/01/arab_jewish_boysw560h384.jpg?w=560&h=384">http://forabetterlebanon.files.wordpress.com/2009/01/arab_jewish_boysw560h384.jpg?w=560&h=384</a> </span>Laylahttp://www.blogger.com/profile/02814312123013460872noreply@blogger.com3