O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!
Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?
O meu amor não tem
importância nenhuma.
(Cecília Meireles, “Inscrição na Areia”)
É muita ousadia minha achar que um dia sairei deste limbo. Achar que um dia encontrarei um coração despedaçado como o meu, pronto para ser costurado pelas minhas mãos.
Linha e agulha em mãos, e eu sou boa costureira. Ofereço meus préstimos de artesã, um afago à madrugada, sonhos esfacelados como num quebra-cabeça em que se perderam peças. Poesias mal escritas por minhas mãos analfabetas e de má caligrafia, meia garrafa de vinho, aberta; música francesa que dá um tom dolorosamente elegante ao meus rosto de linhas tristes. “Tens belas feições, minha cara”, disse-me um amigo que tentava ser gentil. “Amiúde, são tristes”, completou, com aquele ar de quem nada podia fazer.
Não seria melhor me resignar, de vez? Comodamente, sentar-me diante da refeição noturna, com um semblante apático e insosso, degustá-la em solidão e, em seguida, ver os e-mails de ninguém, e pegar no sono para que, no dia seguinte, tudo se repita? Não seria melhor acomodar-me nisso, sem almejar nada mais especial, visto que a vida parece andar dizendo: “Não és especial! Não és especial!”...
O fato é que me coloco, uma noite mais, à janela, ouvindo as mesmas músicas, pensando as mesmas coisas, e sentindo a reincidente e esfacelante sensação de desimportância. Parece que me reduzi à poeira de mim mesma. Parece que, nestes momentos, a força que trago nos olhos só existe sob a forma de vestígio. Tiro minha máscara de mulher espartana, entra em cena a boneca de trapos, vítima de seu incurável pessimismo.
Mais uma noite em que não consigo pesar o que vale, e o que não vale a pena.
Mais uma noite em que, como Cecília, eu sou gota de mercúrio, dividida, desmanchada pelo chão.
Salaam
Layla