sexta-feira, outubro 16, 2009

Happy Diwali

Hoje é celebrado o Diwali, grande festival hindu também conhecido como o "festival das luzes". Resolvi falar aqui sobre este importante acontecimento religioso porque nós, ocidentais, quase sempre marcados por nosso umbigocentrismo, deixamos escapar aos nossos olhos e corações verdadeiras jóias que ocorrem do outro lado do mundo. E o significado do Diwali merece ser celebrado pelo globo inteiro.

Diwali é uma palavra em sânscrito que significa algo como uma "fileira de lâmpadas", um conjunto de luzes. A luz das diyas (pavios de cordinhas de algodão mergulhados em potinhos de barro, cheios de óleo) significam a vitória do bem contra o mal dentro de cada pessoa.

No hinduísmo, em muitas partes da Índia e do Nepal, o Diwali simboliza o retorno de Rama ao lar, após 14 anos de exílio na floresta, e sua vitória sobre Ravana. A história conta que o povo de Ayodhya, capital do reino de Rama, o recepcionou com pavios de algodão iluminados (avali) em lâmpadas (dipa), daí o nome, também conhecido como dipavali. No sul da Índia, o festival marca a vitória de Krishna sobre Narakasura. No jainismo, o Diwali marca a chegada de Mahavira ao nirvana, em 15 de outubro do ano de 527 a.C. O festival é ainda comemorado pelos sikhs, e representa a iluminação da cidade de Amritsar, como comemoração pelo retorno do Guru Har Gobind Ji (1595-1644), o sexto Guru dos sikhs, que estava aprisionado junto a outros 52 reis hindus pelo imperador Jahangir. Depois de libertar os outros prisioneiros, ele foi até o Templo Dourado (Harmandir Sahib), onde foi recebido pelo povo que comemorava com velas acesas. Por causa disso, os sikhs comumente se referem ao Diwali como Bandi Chhorh Divas, ou "o dia da libertação dos cativos". O festival é comemorado também pelos budistas do Nepal.

Pode-se dizer que o significado espiritual mais importante do Diwali seja "a consciência da luz interior". Em tempos sombrios como os nossos, considero imporante que ouçamos esse chamado, sempre presente, mas tão negligenciado, do ponto de luz que fala dentro de nós. Penso que qualquer um pode ouvi-lo, desde que silencie o barulho dos outros sentimentos, dos instintos mais grosseiros que, comumente, querem reger nossa carruagem. Alimentar essa pequena luz é uma tarefa diária, pedregosa, mas benfazeja.

Desejo do fundo do coração que a iluminação interior, a voz da consciência, sempre boa, fale alto a cada um de todos os que visitam esta minha casa. E que, como para os sikhs, esse sentimento propicie nossa libertação dos tantos cativeiros a que nos prendemos. A cada um de vocês, ofereço uma velinha, com todo o meu afeto.

Salaam
Layla

(As informações desse texto foram traduzidas livremente da página http://en.wikipedia.org/wiki/Diwali.
Imagem: http://kalisipudi.wordpress.com/2008/10/28/where-are-those-lights/ )

domingo, outubro 11, 2009

Tenho fases como a lua

Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vêm e que vão
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
(Cecília Meireles)
É que Cecília sabe cantar a sazonalidade de cada ser humano muito melhor que eu...
Salaam
Layla
Imagem: Selene, greek goddess of the moon. Arthemis-Diana in greek mythology. Disponível em: http://www.myastrologybook.com/Artemis-Diana-Selene-Phoebe-Luna-Hecate.htm

terça-feira, outubro 06, 2009

Da simplificação grosseira de um coração que pesa quatrocentos quilos

Quando me perguntam o que eu desejo, de fato, da vida, receio que a resposta não seja binária, direta, dedutível. Não é óbvia. Triste pensar que tantas pessoas consigam ver uma mulher como um personagem de novela, altamente repetível, concluível. Algo terminado.

Mais triste ainda é pensar que alguém possa dizer: "eis com o que você deve se contentar". Eu pareço, de fato, ser rasa e epidérmica? Não há, porventura, atrás de minhas pupilas, um buraco negro, que não se pode supor?

Eu chego a rir de tais simplificações. É como dar a uma mulher uma panela de presente no dia das mães. "Eis aí o que é teu, não se dá por satisfeita?". Como se o meu destino fosse ser essa mártir involuntária, pronta a amamentar a todos em suas gigantes tetas, pronta a ser a eterna mãe, a doadora infinita, a que tudo aceita, a que tudo suporta... Em nome do quê?

Tenho a vos dizer que não sou isso. Não quero isso para mim. Não quero que deduzam o que eu devo ou não devo sentir. Não quero que me censurem em minhas dores mais viscerais, ou que reduzam o cúmulo do meu sofrimento à banalidade óbvia que se vê nos folhetins. Não quero que encarem minhas úlceras como dramas descabidos. Não quero que subestimem minha dor. Ou minha raiva.

A todos vocês, que me simplificam, me restringem, me diminuem as proporções, dedico meu infinito e mais brando olhar de pena.

Salaam
Layla