
“Under blue moon I saw you
So cruelly you kissed me
Your lips – a magic world
Your sky – all hung with jewels...”
(Echo and the Bunnymen, “The Killing Moon”)
A moça olhava para o céu. Ele também a fitava com seus muitos olhos cor de diamante. Ela sabia que o brilho das estrelas que enxergava viajava anos-luz até chegar à Terra e que, talvez, as estrelas ali contempladas já nem existissem mais. Necessariamente, olhar o céu era, então, olhar para o passado. Olhar para aquilo que acabou.
Uma metáfora para si mesma. Pôs-se a pensar no ciclo da vida-morte-vida que é o amor. Esse ciclo que fazia tantas coisas germinarem, e também as ceifava de forma inexorável, deixando apenas o gosto de morte das grandes saudades.
O céu se mostra pendurado de jóias. Cristais diminutos pendem como num móbile. A moça se lembra da última vez que havia olhado para o céu. Estava diante de uma linda constelação, que ele havia lhe mostrado, apontando com o dedo.
- Escorpião.
Desde criança era afeta às estrelas. Lembra-se de fugir das brigas familiares, escondendo-se num cantinho do quintal, de onde olhava para o alto, e eis que o céu se desenhava. Queria evadir-se, aproveitando-se da carona de aves migratórias, como o Pequeno Príncipe. Queria estar entre aquelas estrelas, conhecer novos planetas. Talvez algum planeta minúsculo, habitado por uma criança loura, que cultivava com paciência e total devotamento uma rosa que havia, definitivamente, lhe arrebatado o coração.
Tantos anos se passaram, e ela estava novamente diante daquelas estrelas, com o mesmo sentimento de desejo. Entretanto, havia algo diferente no brilho delas. Parecia que hoje cintilavam menos que antes; parecia que emanavam uma luminosidade empobrecida.
Pudera. As estrelas eram, todas, ofuscadas pelo brilho dos olhos de mar. Um mar que se balançava entre os olhos de noite dela, e o céu risonho. Aquele mar onde ela desejara, tanto, naufragar, e não pôde. Olhar os olhos de mar era, necessariamente, olhar para o passado. Olhar para aquilo que acabou.
Chegou a pensar que não seria necessário procurar um planeta minúsculo com pequenos vulcões e brotos de baobás para encontrar o Pequeno Príncipe. Fitou os olhos de mar e pensou tê-los ouvido dizer: “desenha-me um carneiro?”.
O Escorpião estático, no céu. Seus olhos o fitaram, percorrendo anos-luz de distância.
“Quem nasceu para raposa, nunca chegará a ser rosa” – chorou escondida.
Salaam
Layla