quarta-feira, abril 05, 2006

Sky hung with jewels













“Under blue moon I saw you
So cruelly you kissed me
Your lips – a magic world
Your sky – all hung with jewels...”

(Echo and the Bunnymen, “The Killing Moon”)


A moça olhava para o céu. Ele também a fitava com seus muitos olhos cor de diamante. Ela sabia que o brilho das estrelas que enxergava viajava anos-luz até chegar à Terra e que, talvez, as estrelas ali contempladas já nem existissem mais. Necessariamente, olhar o céu era, então, olhar para o passado. Olhar para aquilo que acabou.

Uma metáfora para si mesma. Pôs-se a pensar no ciclo da vida-morte-vida que é o amor. Esse ciclo que fazia tantas coisas germinarem, e também as ceifava de forma inexorável, deixando apenas o gosto de morte das grandes saudades.

O céu se mostra pendurado de jóias. Cristais diminutos pendem como num móbile. A moça se lembra da última vez que havia olhado para o céu. Estava diante de uma linda constelação, que ele havia lhe mostrado, apontando com o dedo.

- Escorpião.

Desde criança era afeta às estrelas. Lembra-se de fugir das brigas familiares, escondendo-se num cantinho do quintal, de onde olhava para o alto, e eis que o céu se desenhava. Queria evadir-se, aproveitando-se da carona de aves migratórias, como o Pequeno Príncipe. Queria estar entre aquelas estrelas, conhecer novos planetas. Talvez algum planeta minúsculo, habitado por uma criança loura, que cultivava com paciência e total devotamento uma rosa que havia, definitivamente, lhe arrebatado o coração.

Tantos anos se passaram, e ela estava novamente diante daquelas estrelas, com o mesmo sentimento de desejo. Entretanto, havia algo diferente no brilho delas. Parecia que hoje cintilavam menos que antes; parecia que emanavam uma luminosidade empobrecida.

Pudera. As estrelas eram, todas, ofuscadas pelo brilho dos olhos de mar. Um mar que se balançava entre os olhos de noite dela, e o céu risonho. Aquele mar onde ela desejara, tanto, naufragar, e não pôde. Olhar os olhos de mar era, necessariamente, olhar para o passado. Olhar para aquilo que acabou.

Chegou a pensar que não seria necessário procurar um planeta minúsculo com pequenos vulcões e brotos de baobás para encontrar o Pequeno Príncipe. Fitou os olhos de mar e pensou tê-los ouvido dizer: “desenha-me um carneiro?”.

O Escorpião estático, no céu. Seus olhos o fitaram, percorrendo anos-luz de distância.

“Quem nasceu para raposa, nunca chegará a ser rosa” – chorou escondida.

Salaam
Layla

7 Pitacos:

Anonymous Anônimo falou...

Mas é a raposa que ensina ao Príncipe valores importantes... como a importância de se cativar os outros, de se criar laços, dos ritos... que até com o choro a gente pode lucrar... E o mais importante: que o essencial é invisível aos olhos.
Ela é sábia.

Beijo!

4/05/2006 01:04:00 PM  
Anonymous Anônimo falou...

http://bananaseixas.vilabol.uol.com.br/Cap21.htm


(desculpe ocupar dois comentários, querida...mas vai aí o link pra parte do livro que eu mais gosto.)

4/05/2006 01:05:00 PM  
Blogger janamichels falou...

Eu amo o livro, amei suas palavras também!!! Beijos e muita luz e amor pra você, minha amiga virtual, se assim posso chamá-la...

4/05/2006 07:28:00 PM  
Anonymous Anônimo falou...

Comparação entre raposas e rosas

Raposa: Geralmente o primeiro contato com uma raposa é inesperado. Ela atravessa o seu caminho tão repentinamente que tu ficas confuso, e como ela aparece ela desaparece, deixando apenas um ar de beleza e mistério.

Aproximar-se de uma raposa é um exercício de paciência, pois ela é tão desconfiada quanto é bela. É preciso cativa-la, passo a passo, e qualquer movimento brusco pode fazer com que ela nunca mais queria se aproximar de ti.

Uma vez cativada, a raposa dedica extrema confiança, lealdade e cuidado a quem a cativou, mas eu recomendo não acreditar que este sentimento é inabalável.

Rosa: Antes de virar rosa, ela é botão. Botões são fechados em si, escondendo do mundo exterior toda a sua beleza. Tocar um botão é perigoso por causa dos seus espinhos, e ambos podem acabar se ferindo.

Tu deve cultivar o botão até o momento em que ele se abre, revelando a mais bela das flores (prefiro orquídeas). É difícil não admirar a sua beleza, porém, como o botão, ela não deve ser tocada.

Ao tocar uma rosa, corre-se o risco de despedaçar suas pétalas, ou de ferir-se com seus espinhos. Muitos, motivados pelo desejo de tocar um rosa, chegam a corta-la de sua roseira, arrancar todos os seus espinhos, e finalmente, mergulha-la em água fria, levando-a a morte. Rosas só podem ser cultivadas, nunca cativadas.

4/06/2006 01:35:00 PM  
Blogger Renata (Mirka) falou...

Pensando sobre os seus olhos de noite e o dono do B612...
Pensando nas coisas que me aconteceram hoje...
Enfim, me encontrei com Cecília Meireles e ela traduziu em poesia os sentimentos que habitam em mim e que habitam em ti também! (Só precisamos mudar o modo de visão!)

"...Chorai óh, olhos de mil figuras!
Pelas mil figuras passadas
E pelas mil que vão chegando
Noite e dia.
Não consentidas, mas recebidas e esperadas."



Transição

4/06/2006 07:15:00 PM  
Anonymous Anônimo falou...

texto lindo...
The Killing moon é maravilhosa...
bjo

4/28/2006 03:36:00 PM  
Blogger Carlota e a Turmalina falou...

Oi Layla adorada...
Hoje, com mais tempo pude vir ler seus posts com calma...e me pego pensando quais foram os meus momentos de tristeza e angústia?
Descobri que ao contrário da minha angústia, minha tristeza foi sempre muda, sufocada aqui dentro...
Já as estrelas acho que nunca brilharam de forma diferente para mim, embora a lua transforme todos os meus ciclos! É nela que vejo espelhados os rostos das pessoas que mais sinto saudades...e neste momento não sinto angústia e nem tristeza,talvez alguma dor suave, constante e afiada como o corte de uma navalha.Com o passar dos anos aprendemos à não nos machucar...
Beijos

5/05/2006 09:47:00 PM  

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