terça-feira, janeiro 25, 2011

Dos abalos.

O teu corpo sobre o meu
mil arquétipos encerra
é a terra se abrindo aos céus
e o céu fecundando a terra.
Salaam
Layla

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Tudo muito simples.

O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

(Gregório de Matos, abrindo-me olhando o que há por dentro).

Salaam
Layla

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Dos abismos

Às vezes, fechava os olhos e acordava para dentro. Sentia-se como se tomasse uma gigantesca escada em caracol que leva a abismos. Às vezes, a superfície era plácida como o mar sem ventania, mas, por dentro, havia uma profusão de cavalos negros, a correr.

Dentro, o sangue a pulsar, um exército vermelho nas veias, uma descendência de Eva, artérias com sinuosidade de serpente. Havia fome e sede, havia trens descarrilhados, havia carruagens governadas por cavalos, e não por cocheiros.

Havia algum lugar inabitável, inóspito, de vermelho chão de Marte, encarnado, escarlate. Havia tudo o que pode explodir a qualquer momento. E, afortunadamente, com a Graça do mundo, eis que tais abismos irrompem na superfície como a lava de um vulcão. Destroçam tudo ao redor, instauram o caos, revolvem a terra e trocam coisas de lugar. Como uma bênção que só pode adentrar a casa estilhançando vidraças, essa incandescência noticia:

"Estás viva".
Salaam
Layla

Imagem: Obra da genial Teresa Costa Rêgo, "Paisagem em vermelho". Disponível em: www.terezacostarego.com.br