sábado, fevereiro 16, 2008

Lealdade feminina

Durante a Idade Média, no ano de 1141, na Alemanha, Wolf, o Duque da Bavária estava cercado em seu castelo pelos exércitos de Frederick, Duque da Suábia, e de seu irmão Konrad. O cerco vinha de muito tempo, e Wolf sabia que a rendição era inevitável. Mensageiros iam e vinham, levando propostas de acordo, condições e decisões.

Derrotados, Wolf e seus aliados estavam dispostos a entregar o castelo ao pior inimigo. Mas as mulheres desses homens não estavam nem um pouco preparadas para a derrota. Enviaram uma mensagem a Konrad, irmão do duque inimigo, pedindo a promessa de salvo-conduto para todas as mulheres das cercanias do castelo e permissão para que elas levassem todos os bens que pudessem carregar.

A permissão foi concedida e os portões do castelo se abriram.

As mulheres foram saindo, levando consigo estranha carga. Não traziam ouro ou jóias. Cada uma vinha curvada sob o peso do marido, na esperança de salvá-lo da vingança dos inimigos vitoriosos.

Dizem que Konrad, bom e piedoso de fato, comoveu-se até às lágrimas diante daquela atitude extraordinária. Apressou-se em garantir a liberdade às mulheres e segurança aos maridos. Convidou a todos para um grande banquete e fez um acordo de paz com o duque da Bavária em termos mais favoráveis que o esperado.

Desde então o monte onde estava situado o castelo passou a ser chamado de “lealdade feminina”.
*
As mulheres, desconhecendo a força de que são portadoras, muitas vezes saem a campo para disputar forças com os homens. Desconhecem que, no dia em que quiserem, mudarão o mundo.

(Excerto do texto "Lealdade Feminina", escrito pela Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em história adaptada do Livro das Virtudes II, pág. 460 e no cap. 13 do livro Vereda Familiar, ed. Fráter Livros Espíritas).

* * *

Ao ler esse texto, não pude me furtar a pensar em mim mesma. Em mim, e em tantas mulheres que conheço, para as quais o maior bem é justamente o amor das pessoas. Se eu estivesse no castelo sitiado, muito provavelmente teria saído dele carregando nas costas meu marido e meus filhos. Talvez – só se sobrasse tempo – eu voltaria para buscar o canudo de psicóloga, as roupas de dança do ventre e as especiarias que deixei na cozinha. Não que essas três coisas sejam dispensáveis à minha felicidade. Trata-se de compreender a profundidade da palavra “prioridade”. Essa palavra que cada mulher que estiver lendo estas letras saberá do que se trata.
Certa vez, ao fazer uma pesquisa para um trabalho da faculdade, eu entrevistei algumas meninas. Entre as perguntas, havia esta: “O que é necessário para você se realizar profissionalmente?”. As respostas giraram em torno dos assuntos da própria carreira: remuneração, reconhecimento, estabilidade profissional, entre tantas outras coisas. Apenas uma das entrevistadas – a única que já tinha um companheiro e uma criança – respondeu: “para me realizar profissionalmente, necessito de creche para o meu filho”. Isso me tocou profundamente, e me fez compreender, uma vez mais, o sentido desta tal palavra “prioridade”.

Hoje escrevo esse texto e assino estas palavras como a mulher que carregaria o marido nas costas. A bailarina que carrega estrelas nos quadris mas, além delas, camufla sobre as vestes o mais afiado sabre, pronto para defender sua terra e suas gentes. Esse sabre de ponta aguda, guardado no peito de todas nós, disfarçado de coração.

Pessoas que amo, e você sabem quem são... eu sou de vocês.

Salaam
Layla


Imagem: detalhe de “La Primavera”, de Boticcelli. Disponível (bem grandona) em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_(Botticelli)

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Quebrando o silêncio

Eu voltei. Vim limpar os vulcões do meu blogue, arrancar os baobás para que não cresçam e ocupem-no todo. Voltei porque passei muito tempo longe, e isto foi bom. É que acostumei-me a experimentar a vida pelas letras, mas passei, então, um tempo experimentando a vida pela vida, e agora tenho mais letras por causa disso.

Vim para dizer que voltei.
Até muito breve.

Salaam
Layla