sábado, outubro 20, 2012

Ainda sonhar - ou mais um bilhete

Incrível minha capacidade de prosseguir. Eu também não sabia que a possuía nesse grau. Porque embora o que me fere, me dói, embora essa quantidade imensa de lâminas a me atravessar a garganta, eu continuo amando, e isto não significa ingenuidade. Pelo contrário. Amor "a despeito" de minha falta de ingenuidade. A despeito de meu senso de realidade. Continuo limpando os cortes. Vendo-os cicatrizar. O sangue estanca, endurece, enegrece-se e, quando a dor abranda, pele nova há por baixo. Nova pele. Novos cortes. E tudo cicatriza de novo. Um contínuo cortar e fechar. Corta-se, eu remendo. Eu remendo.

Remendo e ainda consigo sorrir a cada oportunidade que tenho de continuar a verter amor pelas pontas dos dedos. E esse amor escapa, derrama-se em minha comida, em minhas cartas, derrama-se em qualquer ínfima atitude que possa lhe arrancar um sorriso.

Parece que vou andando como louca, atravessado um vendaval de mentira, discórdia, um vendaval de tudo aquilo que existe e que transforma este mundo em terra frágil. Como louca, prossigo, se eu não te encontrar ao fim da neblina, ao menos não terei feito parte desse coro triste.

É noite, a despeito de tudo, sonho.

Salaam
Layla