sexta-feira, maio 18, 2012
Em algum lugar de Macondo.
Layla Atenea Bint Yezid, mulher, 32 anos, catadora de estrelas. Vive de sonho em sonho, como Akira Kurosawa. Desperta, é psicóloga, historiadora e bailarina. Mulher de caldeirões, há sempre um deles aceso, para manter a casa quente e acolhedora e é assim que deve ser.
Tu és como o rosto das rosas:
diferente em cada pétala.
Onde estava o teu perfume? Ninguém soube.
Teu lábio sorriu para todos os ventos
e o mundo inteiro ficou feliz.
(Cecília Meireles)
Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas, sai um milagre.
Alice Ruiz e Itamar Assumpção
Mergulhe fundo como eu mergulhei. Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento.
(Clarice Lispector)
O que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.
(Cora Coralina)
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. (...) Se acostuma para
evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta,
para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos
poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(Marina Colasanti)
Para navegar contra a corrente são necessárias condições raras: espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão.
(Nise da Silveira)
Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza
selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna
permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma
intuitiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e
estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior. Quando as
mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento
transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e
mentora selvagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior.
(Clarissa Pinkola Estés)
Senhora, senhora, me diga novamente
O que pode crescer, crescer sem a chuva?
O que pode incendiar durante muitos anos?
Quem pode ansiar e chorar, sem lágrimas?
Tolo rapaz, por que ainda pergunta?
É a pedra que cresce, que cresce sem chuva.
É o amor que pode incendiar por anos.
É o coração que pode chorar sem lágrimas.
(Tradução de versos da "Tumbalalaika", tema de Sabina Spielrein no filme “Jornada da Alma”)
Uma Oração
Recuse-se a cair.
Se não puder se recusar a cair,
recuse-se a ficar no chão.
Se não puder se recusar a ficar no chão,
eleve o coração aos céus
e, como um mendigo faminto,
peça que o encham,
e ele será cheio.
Podem empurrá-lo para baixo.
Podem impedi-lo de se levantar.
Mas ninguém pode impedi-lo
de elevar seu coração
aos céus -
só você.
É no meio da aflição
que tantas coisas ficam claras.
Quem diz que nada de bom
resultou disso
ainda não está escutando.
Clarissa Pinkola Estés
Reflexões da Semana
Certa feita, um pedaço de carbono sumido no monturo pediu a Deus o
levasse para a superfície da Terra, a fim de ser mais útil. O Supremo
Senhor ouviu-lhe a súplica e determinou fosse ele detido no subsolo
para a devida maturação. O minério humilde aceitou a resposta e
permaneceu na clausura, por séculos e séculos, suportando a química da
natureza com o assalto constante dos vermes que habitavam o chão.
Chegou, por fim, o tempo em que o Criador mandou arrancá-lo para
atender-lhe aos ideais. Instrumentos de perfuração exumaram-no a golpes
desapiedados e o lapidário cortou-lhe o corpo, de vários modos, em
minucioso burilamento. Mas quando o carbono sublimado surgiu, de todo,
aos olhos do mundo, Deus o havia transformado no brilhante, que passou
a brilhar, entre os homens, parecendo uma flor do arco-íris com o
fulgor das estrelas.
Meimei
Agradeço à minha querida Brisa por esta pérola.)
Como Água para Chocolate
Seção gastronômica dedicada à arte da Slow Food
Declarando-se contra a pressa excessiva dos trâmites mundanos (que não
deve se confundir com eficiência), os adeptos do ''Slow Food'' (comer
devagar) elegeram o paladar como símbolo vital de um valor a ser
conquistado e liberto da crescente desatenção com que se degusta o ato
de viver.
Se as soluções práticas, a la ''fast food'' por um lado se adaptam ao
cotidiano apressado, por outro inibem a percepção e o desfrute de
nuances em qualquer estímulo.'' (Transcrito de encarte da banda
Nouvelle Cuisine).
Bem-vindo o ritual dos antigos, o comer sem pressa, a cozinha atenta
aos mínimos detalhes do paladar, da visão e do tato!
Aqui, sempre uma deliciosa crônica para acompanhar uma saborosa receita. Para o deleite dos alquimistas da cozinha.
HILDEGARD VON BINGEN
Durante as trevas intelectuais da Idade Média, a Igreja Católica Romana
era uma insituição patriarcal sedenta de poder e rigidamente machista.
Mas, mesmo assim, alguns luminares femininos conseguiram se destacar,
especialmente nos países germânicos. Entre estas mulheres, uma nos
interessa especialmente: Hildegard von Bingen.
Hildegard von Bingen viveu de 1098 a 1179, na Renânia. Ela foi uma
extraordinária pensadora, uma grande filósofa e teóloga. Ela era uma
freira que - coisa raríssima na época - fazia sermões públicos, os
quais além de atrair pela riqueza de conteúdo, atraíam também multidões
pelo carisma. Dentre outras qualidades, ela era compositora (suas
músicas foram recentemente gravadas), escritora, médica, botânica. De
certa forma, ela possivelmente tenha sido a primeira cientista após a
destruição definitiva da biblioteca de Alexandria. Na totalidade da
história ocidental, o século 12, na Alemanha, nos chama a atenção pelo
profundo mergulho espiritual dos pensadores da época, na maior parte
religiosos, que possibilitaram uma ambiente extremamente místico que se
refletiu na arte e cultura do tempo, e que ainda hoje exercem um
fascínio mágico e racionalmente incompreensível ao homem moderno, mas
que emociona profundamente e enleva a alma: o estilo Gótico.
A Renânia possuia todo um clima espiritual mais sofisticado e evoluído
que o resto da Europa. Lá nasceu Hildegard. Ela era a décima criança de
uma família nobre que morava na cidade de Rhineland, próxima a Mainz, e
onde ainda se podia respirar um pouco do ar celta e sentir um pouco do
espírito da Antiga Roma Imperial. Com oito anos, sua família resolveu
entregá-la aos cuidados de uma freira para que, posteriomente, seguisse
a carreira religiosa.
Hildegard escrevia tudo o que lhe acontecia, e suas visões se
transformaram num livro chamado Scivias (Conhecer o Caminho). Muitas
vezes ele diria que suas visões e as sensações a elas vinculadas eram
difícies de serem postas em palavras. Eram experiências que
transcendiam o nosso modo convencional de perceber as coisas. Mas ela
tinha que descrever suas experiências de alguma forma, sentia uma
grande necessidade de comunicá-las. Por isso não é de se estranhar que
toda a riqueza de suas experiências místicas tenham sido relatadas sob
a forte capa cultural típica dos escritos da época. Durante mais de 25
anos, ela escreveu um número extraordinário de documentos e trabalhos
sobre a relação humana com o plano divino da criação. Também produziu
fascinantes estudos sobre botânica e medicina. Compôes 77 canções
litúrgicas para uso do convento, e algo como um oratório dramático
intitulado Ordo Virtutem. Já com uma idade avançadíssima para a época,
aos 72 anos, ela voltou a Rhineland para pregar aos clérigos e aos
leigos da necessidade de reformas urgentes na Igreja, que estava
visivelmente corrompida por assuntos nada espirituais. Por toda a vida,
ela escreveu centenas de cartas para as pessoas das mais diversas
classes e níveis sociais.
Sua incansável energia e grande vitalidade argumentativa tornaram-se suas principais marcas de personalidade.
Este texto sobre Hildegard encontra-se aqui, onde você pode lê-lo na íntegra. O texto e a receita a seguir são de Hildegard:
NOZ-MOSCADA
Myristica fragrans
“A noz-moscada contém um grande calor e uma boa mistura (temperamento)
nas suas forças. E se um homem come a noz-moscada, ela abre o seu
coração, purifica a agudez (nitidez) dos seus sentidos e transmite a
ele algo genial (um bom intelecto).” (PL 197, 1139 A/B) - Liber
Simplicis Medicinae. Devemos usar este tempero poderoso moderadamente,
no máximo a metade de uma noz-moscada por dia. Ela entra também na
receita das “bolachas com temperos ou bolachas para os nervos”, que
fortalecem os nervos, são contra falta de concentração, cansaço e
desintoxicam o organismo.
BOLACHAS PARA OS NERVOS
Modo de preparar:
misture 45 g de noz-moscada moída, 45 g de canela da índia moída, 100 g
de cravo da índia moído, 1 kg de farinha de trigo especial, 375 g de
manteiga, 300 g de açúcar mascavo (de preferência), 4 ovos, 1/2 colher
de chá de sal, fermento.
Com esta massa pode-se preparar
bolachas de costume e consumir diariamente 4 a 8 delas. Elas fazem bem
não somente aos adultos, como também aos estudantes, mesmo desde
pequeno.
“...e coma estas bolachas freqüentemente e isto abafa a amargura do coração
e da mente, e abre o seu coração e os seus sentidos embotados
(apáticos) e torna sua mente alegre e purifica os seus sentidos e
diminui em todos os maus humores, e dá ao seu sangue um bom sumo e
torna-o forte.”
Seção Khalil Gibran
Um dos poetas árabes de maior expressão de todos os tempos, Gibran é
reconhecido pela sutileza e sensibilidade ímpares de seus escritos, que
aplicam a sabedoria oriental à vida quotidiana.
“Quando
uma pessoa está fisicamente esgotada, vai respirar o ar vivificante das
montanhas. Espiritualmente também, as pessoas se esgotam: o egoísmo, a
concorrência feroz, o automatismo, a solidão moral, a insensibilidade
que caracterizam os tempos modernos afetam nossas almas mais ainda do
que a exaustão de nossos corpos. E livros como O Profeta são as alturas
vivificantes de que a alma precisa”, Mansour Challita.
Então, Almitra disse: “Fala-nos do Amor”.
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos, e como uma voz forte, ele disse:
“Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando eles vos envolver em suas asas, cedei-lhe,
E quando ele vos falar, acreditai nele.
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E
da mesma forma que ele contribui para vosso crescimento, trabalha para
vossa poda”.
(...)
Todavia, se no vosso temor procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonassem a eira do amor.
Para entrar no mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos
risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio, e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui e não deixa de possuir.
Pois o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, mas que diga antes: “Eu estou no coração de Deus”.
E não imaginareis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se
vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo, senão o de atingir sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes de desejos, sejam estes vossos desejos:
“De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança”.
Khalil Gibran
Eleitos
Lorca, García Márquez, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Florbela Espanca, Machado de
Assis, Fernando Pessoa, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Mário
Quintana, Drummond, Pablo Neruda, Maria do Rosário Pedreira, Federico Andahazi, Tolkien.
Platão, Rousseau, Kant e Espinosa.
Carl Gustav Jung. Erich Neumann. Raïssa Cavalcanti.
Quem Somos Nós ("What the bleep do we know!?"), Jornada da Alma, O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, A Excêntrica
Família de Antônia, Como Água Para Chocolate, Frida, Tango, Goya, Mar Adentro, A cor do paraíso.
Boticcelli, Klimt, Schiele, Dalí, Frida Kahlo, Van Gogh, Picasso, Toulouse-Lautrec.
Turquia, Grécia, Líbano, Marrocos, Tunísia, Irã.
Comida árabe adaptada a paladares vegetarianos (kibes e esfihas de soja
e afins), massas de todos os tipos, comida indiana e mediterrânea.
Música árabe, grega, turca, espanhola, portuguesa (fados), celta, tangos argentinos.
Madredeus, Loreena McKennitt, Fortuna, Sara Montiel, Dulce Pontes, Amália Rodrigues, Natacha Atlas, Fairouz, Omar Faruk, Sirocco, Ahsas, Farid El Atrache, Abdel Halim Hafez, Um Koulthoum, George Abdo, Andrew Bird.
Esmalte cor de ameixa e brincos à la Tarsila do Amaral.
Coração livre como uma canção cigana.
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