Da sagrada arte de se juntar pedaços
“Há uma diferença entre angústia e tristeza. Angústia é uma sensação de perda iminente. Tristeza é uma constatação de que a perda é irreversível”.
Compreendo bem, hoje, essa diferença. Nesta fase ao mesmo tempo dolorida e benfazeja que atravesso, e na qual pensar sobre os caminhos de minha vida se torna atividade inevitável e necessária.
Acho que vivi angústia demais. Tristeza demais. Quando me deprimo deveras, meu corpo quase sempre responde à altura. É a hora de cair doente, e parar para analisar a situação. São os avisos que o corpo dá de que as células não estão suportando determinada situação, e que é necessário revertê-la em prol da sobrevivência. Nossas panes corporais têm muito a nos dizer. Minha labirintite, quando volta com toda a força, fazendo a casa girar, me mostra a necessidade de se retomar o equilíbrio... Equilíbrio.
Abrir o livro de minha vida e consultar as páginas pregressas é, via de regra, desolador. Entretanto, deparar-me com essas perdas que me marcaram não é um passatempo inútil. Ao contrário, mostra-me que tais perdas não me mataram – antes, foram caminhos para transformações profundas. Em muitas páginas de meu livro, lá estava eu, agulha e linha em mãos, no exercício da automedicina, costurando feridas abertas, sem anestesia... gritando de dor. Nas páginas seguintes, o corte ia sendo cicatrizado, os pontos se fechando... A sagrada arte de se juntar os próprios cacos.
É normal que se crie expectativas e que se coloque a felicidade fora de nós, algumas vezes. É errado, mas é normal. Afinal, tendemos a esperar algo de bom dos outros, tendemos a acreditar em quimeras, e isso é próprio da condição de humanos. Entretanto, quando a ilusão se desmancha, cumpre que nos voltemos àquilo que é perene em nossas vidas. Eu passei esses dias pensando nisso. No que é perene em minha vida, e no que é transitório.
É perene a dança. É perene a cura que se realiza a cada vez que boto nos dedos os címbalos, e que faço com meus quadris o mundo ter razão e ter continuidade. É perene a relação com os livros. É perene a alegria inefável de se abrir as páginas tolkienianas e deparar-me novamente com as canções dos hobbits, assim como é inefável a sensação de ler os escritos do Jung e sentir-me compreendida. É perene minha fé. Sem maiores comentários.
Dança, livros, fé.
Família.
Amigos (outra família).
De como lidar com perdas... Algumas irreversíveis (tantas foram...), outras não. É questão de “dar tempo ao tempo”. Foi o que disseram...
Eu não vou fechar nenhuma porta. O dia em que a felicidade chegar, não vai precisar sequer bater. Vai encontrar a casa aberta, a mesa posta, e meus ouvidos atentos ao barulho de seus passos.
Estarei esperando com a melhor roupa. O melhor perfume.
Mas, para isso, é necessário limpar essa sujeira toda, e colar caco por caco, novamente.
Salaam
Layla
10 Pitacos:
Muito amadurecimento, heim. Não tarda essa tal felicidade aparecer. Aliás, acho que consigo ver resquícios dela em vc. Bjs grandes.
Oi querida!
Fico feliz de vê-la bem! Há felicidades ilusórias e há o bem estar perene, que, como disseste, tem sede em nós, não nos outros.
Obrigada por compartilhar!
Um beijo e uma brisa!
Um sorriso ! ;)
Estou precisando colar os cacos também... Tudo está quebrado, e espalhado... Dará muito trabalho limpar, mas vale eu tentar!
Beijos e até mais!
É como o texto das borboletas... Não correr atrás delas, mas plantar flores para que elas se aproximem. (estou aprendendo também)
Um ótimo fim de semana...
Fique bem.
É como o texto das borboletas... Não correr atrás delas, mas plantar flores para que elas se aproximem. (estou aprendendo também)
Um ótimo fim de semana...
Fique bem.
"Tinúviel estava lá a dançar
Ao som invisível flauta
E o brilho das estrelas luzia-lhe no cabelo
E bruxuleava-lhe nos vestidos."
Felicidade é acima de tudo educada...não entra senão convidada..e pior, ela pode não saber qual botão do elevador apertar...felicidade não bate nem vem a porta, agente pega pela mão e traz pra dentro...
boseh!
Ah, mas deixa ela dar sopa, que eu agarro mesmo. Não tenha dúvida... É que ela é uma moça difícil. Hoje ela até deu um pulo aqui em casa. E sempre reclama quando não abro a porta logo que ela toca o interfone...
Ah, a felicidade podia vir sempre...
:)
Boseh...
Não perca tempo. Ao menor sinal, deixe-a entrar mesmo. E olha... segredinho... não a deixe escapar mais!
Beijos!
Olá!
Consegui Tumbalalaika na versão do filme...
Linda de viver!
Se quiser, é só fazer contato e damos um jeito de compartilhar o arquivo!
Beijs
Mirka
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