Da sensação de pertencer
Parece que quanto mais tempo passo longe desse universo, definho como uma planta sem água. Quanto mais tempo longe dessa língua, entristecem-se meus ouvidos, com saudades das belas palavras, quase num cantar. Quanto mais tempo longe do som que as mulheres fazem com a língua convidando à dançar, menos doces são os dias, e é como se a vida fosse desinteressante e desapaixonada.
Houvesse companhia, hoje eu dançaria um dabke como nunca dancei. Hoje eu colocaria uma flor nos cabelos, amarraria um lenço à cintura e arriscaria os pulos que gosto de fazer. Hoje eu desejei segurar as mãos de outras pessoas como irmãos, e entrar na roda onde todos batem os pés no mesmo ritmo, celebrando a união e fazendo o mundo ter continuidade, e a vida ter sentido. A roda que levanta a poeira da terra e faz os antepassados que já se foram sorrirem, felizes. A roda que torna todos iguais: mãos unidas, vozes unidas, sangue guerreiro falando alto. Orgulho dos homens, orgulho das mulheres: a sensação de pertencer.
Sou uma mulher do deserto. Uma mulher a quem bastam as noites plenas do cintilar das estrelas, a bailar ao redor do crescente da lua, e um chão firme onde se possa fazer a roda. Uma mulher de olhos grandes e negros, de coração indomável e de quadris feitos para dançar e para parir.
El wardi sahbi...
Qalli 'ala haga
N'harda wa fil-layl...
El wardi sahbi...
El wardi sahbi,
Qalli 'ala haga.
N’harda wa fil-layl
N’harda wa fil-layl...
(Natacha Atlas)
Salaam
Layla.
1 Pitacos:
Oi lindinha...lendo este seu maravilhoso post me transportei para um mundo que me acolhe: o barulho do mar batendo nas pedras, os coqueiros dançando ao vento que vem do mar e aquela vastidão azul...
O meu deserto é um pouco diferente, um tanto mais úmido...rs...
Beijos
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